Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Agur foi amarrado como um porco para o abate na entrada da caverna, tendo sua boca amordaçada e seus movimentos ainda mais limitados. Ele era útil vivo, mas isso não significava que precisaria ficar confortável.

Ayleen e Imogene fizeram uma fogueira na parte mais interna e após verificarem que o espaço era seguro, espalharam as peles para terem um pouco de conforto e descansarem. Dormir não estava em cogitação, já que era necessário se certificar de que nenhum perigo abordaria o grupo, mas ao menos algumas horas de descanso para o corpo seriam úteis para se recomporem e seguirem viagem assim que o dia nascesse novamente.

Imogene tinha um olhar estoico, fixo no fogo que crepitava. Era como se tivesse se esvaziado de todas as emoções e as chamas de algum modo a hipnotizassem. Sentia uma pressão muito forte na cabeça, como se estivesse submersa e conseguisse ouvir os barulhos muito abafados. Não que houvesse muitos sons, tirando o barulho da madeira estalando no fogo, de algum eventual morcego ou de um grunhido ou outro emitido por Agur há alguns metros dali,  a noite estava silenciosa.

Ayleen levantou-se da pedra onde estava encostada enrolada em uma pele de animal e caminhou até Imogene, lhe colocando a pele sobre os ombros. Sentou-se ao seu lado oferecendo apenas silêncio por alguns minutos. Ela conhecia Gene o suficiente para lhe dar o espaço necessário nesse momento, mas ao menos lhe mostrar que estava ali.

-Faz quase uma semana que você não dorme mais do que algumas horas de sono, Ayleen. Aproveite todo o conforto fornecido pelo ar campestre – disse com uma nota de ironia na voz sem tirar os olhos das chamas.

-E perder a companhia? Der jeito nenhum. –  Respondeu com um meio sorriso, mesmo que Imogene não pudesse notá-lo.

-Eu não farei nada com Agur, se é isso que você teme. Temos um plano, e eu pretendo continuar com ele. – disse pegando um graveto longo e cutucando as brasas com ele.

-Eu sei disso, Gen. Não me preocupo com ele, e sim com você. Tenho certeza de que se tudo pudesse ser resolvido a socos, pontapés e golpes de espada, tudo ficaria bem. É o que está aí dentro que me preocupa. Você passou por coisas demais.

-Eu não fui a única – disse, finalmente olhando nos olhos de Ayleen enquanto ambas permaneciam em silêncio por alguns segundos. – Me desculpe por isso.

-Por que você acha que tudo é sobre você?

-Perdão?

-Não, eu não estou dizendo isso num sentido ruim como se você fosse uma pessoa egoísta, pelo contrário. Talvez altruísmo em excesso seja o problema. Eu não vou chamar de complexo de herói, porque isso te magoaria, mas honestamente, Gen… – Disparou, jogando uma pequena pedrinha no fogo. – Nem tudo depende de você, ou de nós. E eu nem estou me referindo à vontade dos deuses, dos espíritos ou do destino.

-Então me diga, se eu não tivesse sido egoísta o suficiente para embarcar numa jornada solitária pelos confins do mundo, você teria ficado ao lado de minha mãe no Palácio? Você poderia ter se casado e ido para longe, e não teria passado pelo que passou com Agur. Mas em vez disso, permaneceu ao lado para que ela não enlouquecesse. Se você tivesse seguido sua vida, sequer estaria por perto quando Agur chegou no condado, mas você se sacrificou por todos nós. E eu, julgando estar correta, te mantive no escuro sobre meu plano, te magoando mais uma vez, porque eu mesma achei que estava no direito de me sentir magoada. Você passou meses odiando Baelish e achando que ele era seu inimigo por minha causa. Você quase morreu quando os rebeldes atacaram a Cornualha, por minha causa. Talvez o próprio Baelish esteja morto agora, por minha culpa. Eu sinto que toda vez que tento tomar uma decisão certa acabo causando mais dano do que bem. Eu entendo você não conseguir me perdoar, Ayleen. Eu mesma não consigo.

-Então essa é a resposta? Se vilanizar, ignorando o fato de que tudo isso aconteceu por sede de sangue daquele crápula ali fora e não por algo que tenhamos escolhido? Pelos deuses, Gen. Eu fiquei ao lado da sua mãe porque eu a amava, e porque era o mais próximo que eu conseguia me sentir de você. Eu nunca deixei de seguir minha vida por causa da sua ausência, porque você sempre foi grande parte da minha vida. Seu erro é ser estúpida e cabeça dura demais para perceber o que está na sua frente tomar a responsabilidade de tudo pra si.

-Então por favor, lance luz sobre minha estupidez. – disse arremessando o graveto que usava para mexer no fogo para longe e tentando se levantar, apenas para ser impedida pela mão se Ayleen puxando seu braço para baixo novamente e se atirando a ela num beijo cheio de entrega e furor. Por alguns segundos Imogene sentiu todo o ar da caverna sumir, sentiu suas pernas amolecerem e sentiu-se perdendo toda noção de onde estava, tomada por uma onda de calor. Por alguns segundos, não existia Agur, não existia conflito, não existia missão. Imogene ponderou se era isso que os bardos queriam dizer quando cantavam histórias sobre o paraíso pós vida, onde todo o resto além da existência do ser e a sensação de plenitude supostamente deveria envolver quem o alcançasse. Era isso que sentia agora entregue a aquele beijo, que nada mais existia além dela e de Ayleen e ela queria que aquilo durasse para sempre. Mas, a necessidade de respirar novamente provava que ambas estavam bem vivas e foi por causa dela que Ayleen se afastou, trazendo Imogene novamente para a terra e lhe acordando.

-Eu espero que isso seja luz o suficiente. – disse Ayleen afastando-se um pouco – Você é teimosa, obstinada, orgulhosa, cheia de complexo de herói e acha que pode resolver tudo sozinha, mas ainda assim, surpresa, eu continuo te amando. Eu nunca me senti obrigada a nada, Gen. Todas as decisões que tomei foram justamente por isso, porque eu te amei e continuo te amando. Sim, eu fui magoada, eu magoei, e agora está tudo bem. Quando nós éramos crianças e você me desafiou a subir naquele carvalho, e eu acabei com os joelhos todos ralados e ainda tive que ouvir sermões depois, eu fiquei furiosa com você por uma semana, e depois passou. Você ter escondido o plano de mim também me deixou furiosa, mas não me fez te amar menos. Eu sinto muito pelos seus pais. A raiva que você sente por Agur eu também sinto, porque eu também os amava. Mas existem mais pessoas envolvidas nisso, existem mais pessoas que também perderam entes queridos ou coisas preciosas pelo caminho, então essa não é uma luta só de uma pessoa. Nem tudo depende apenas de você.

-Você não me odeia pelos meus erros então?

-Em nome dos espíritos, eu não sabia que você achava que tinha que ser perfeita. Não te ensinaram humildade lá na terra dos samurais? – perguntou Ayleen rindo e fazendo a outra rir também. – Venha cá. – disse recostando-se numa pedra coberta pelas peles e convidando Imogene para que se juntasse e ela. Gen, levantou hesitante e se recostou perto dela.

– Eu não quero te perder de novo – disse Imogene com a voz entrecortada. – Por favor, não me deixe te perder de novo.

Ayleen se estendeu melhor e lhe puxou acomodando sua cabeça em seu ombro.

-Eu não estou indo a lugar nenhum sem você.

Dormir ainda não era uma opção, mas pelas próximas horas até o amanhecer, o espírito de ambas descansaria um pouco mais leve.

Nota