O navio em que Gabrielle viajava cortava as ondas com uma solidão que ecoava em seu próprio coração. A tripulação movia-se ao seu redor, uma sinfonia de vozes e passos, mas ela se sentia distante, perdida em um mar de pensamentos e memórias.

Ela era agora barda, guerreira, a herdeira do Chakram, mas as palavras soavam vazias sem Xena ao seu lado. A presença da guerreira ainda assombrava cada canto do navio, cada onda que quebrava contra o casco parecia sussurrar seu nome. Gabrielle lutava para aceitar a realidade — Xena havia partido, mas como poderia ser verdade?

Os últimos meses haviam sido um turbilhão. No deserto, Gabrielle havia acidentalmente tirado a vida de um jovem guerreiro, uma ação que a condenou à morte. Xena interveio, recusando-se a permitir que Gabrielle enfrentasse tal destino, mesmo quando Gabrielle se resignou a ele. “Jamais permitirei que você morra, Gabrielle,” Xena havia dito com firmeza, “nem por escolha própria, nem por qualquer outra razão.” E agora, ironicamente, era Xena quem havia feito a escolha final, deixando Gabrielle para trás.

À noite, Gabrielle se deitava acordada, seu olhar fixo nas estrelas que cintilavam acima do mastro. Ela questionava o sacrifício de Xena, o peso de quarenta mil almas. Será que sua vida não significava tanto para Xena quanto aquelas almas? Ela se lembrava dos olhos azuis penetrantes de Xena, da força de seu abraço, das piadas que compartilhavam. Tudo isso parecia uma vida distante.

O navio, com seu espaço confinado, era uma metáfora para a situação de Gabrielle: ela estava presa em um ciclo de luto e confusão, incapaz de fugir de seus próprios demônios.

A cada amanhecer, Gabrielle se esforçava para entender a motivação por trás do sacrifício de Xena. Depois de tudo o que tinham vivido juntas, era ridículo pensar que Xena tinha ido embora. Na conta foi uma crucificação, um poço, congelamento por 25 anos, facadas, envenenamento, flechadas. Pelo amor de Zeus… Xena já se tornou um arcanjo por Gabrielle e se tornou o demônio. E matou um demônio. E perverteu um arcanjo. 

A culpa por trás da morte das 40 mil almas, Gabrielle pensava duas, três, dez mil vezes… Era daquela adolescente. Ela não acreditava que Xena tinha se deixado morrer por causa da manipulação de uma adolescente.

Continua

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