Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Passam muitos dias antes que eu possa ficar de pé sem minha cabeça girar.

Como quase tudo entre eu e ela, foi uma mistura de carinho e tortura.

Mesmo machucada, ela cuidou de mim com afinco e dedicação.

Certas coisas, eu e ela somos incapazes de realmente colocar em palavras. Mas nos comunicamos do nosso jeito. E eu ouço. E sei que ela ouve também.

Quando estou realmente boa, a primeira coisa que faço é amor com ela.

É assim que chamo na minha mente agora.

Ela nunca foi tão suave e cuidadosa.

Eu nunca precisei tanto dessa delicadeza.

Ela realmente temeu que eu morresse.

Eu temi deixá-la.

Ela tem medo de me machucar.

Mas ela precisa me tocar, e eu preciso que ela me toque.

Tanto, tanto cuidado nas mãos dela.

Mas ainda assim, eu gozo tão forte. Quase tive medo da minha cabeça ainda frágil rachar de novo.

Provavelmente é por conta de todos aqueles banhos que estavam me enlouquecendo e eu não podia ir atrás da minha satisfação. Frustração acumulada por dias.

Mas deve ser também porque sinto um amor enorme e inomeado irradiando dela até mim.

Ela ri, debochada, quando encharco a mão dela.

– Tava realmente necessitada, hein? – ela mordisca minha orelha.

Respondo dando o que ela precisa. Ela não tem moral nenhuma quando é ela que está uivando como um animal encurralado debaixo de mim.

– Cuidado, ou seu amigo vai ouvir – eu falo – ele vai saber como você fica para mim.

Eu finalmente conheci o amigo dela. Um sujeito baixinho e calvo com uma matraca incansável.

O tipo de pessoa que eu mataria só de raiva.

Mas estou viva porque ele nos ofereceu abrigo.

Ou teve medo de recusar, não sei.

Mas sabe-se lá porque, acabei gostando dele.

Eu, efetivamente interagindo com um humano que não é ela.

Honestamente, é refrescante.

Ele não se importa com meu humor corrosivo, com meu olhar perturbado, ou com o sangue de centenas que tem em minhas mãos. Nem com meus arroubos de agressão.

Ele me aceita, meio que do jeito que aceita ela.

Então, se você é um lunático com habilidades letais de combate, não tema. Existe alguém no mundo capaz de ser seu amigo e ignorar esse pequeno detalhe sobre você.

Estamos curadas e prontas para partir.

A questão é: para onde?

Ela diz que não quer retomar o exército. E eu nunca quis nada a não ser segui-la. Então não sei como contribuir com a decisão.

Se ela decidir tentar novamente ser a dona do mundo, estarei com ela. Se ela decidir virar cuidadora de porcos, provavelmente estarei lá também.

Qualquer caminho é bom, desde que seja com ela.

Ela decide vadiar sem rumo por um tempo.

Não damos muitos passos no mundo antes que o primeiro assassino venha atrás dela. E sou eu que o mato.

Darphus colocou um preço na cabeça dela.

Tadinhos, morrerão como moscas.

Por um tempo, nossa diversão é acabar com os iludidos que acham que tem chance contra ela.

Ninguém tem.

Eu sou a única que tem a vida dela nas mãos.

Depois de um tempo, a diversão vira ódio, principalmente da parte dela.

Ela quer ir atrás de Darphus pessoalmente.

Eu não quero que ela faça isso. Isso é um passo para ela virar a Conquistadora de novo.

E, não achei que seria assim, mas prefiro nossa vadiagem pelo mundo.

Mas o ódio dela passa quando ouvimos notícias das derrotas espetaculares que o exército sofre nas mãos dele.

Ainda que seja o trabalho que ela construiu por anos, ela se sente orgulhosa de saber que eles não prosperam sem ela.

Soldados desertam, o exército encolhe, a ameaça se desfaz. Ela não tem um exército para retornar, nem que quisesse.

Mas ela pode formar outro.

Percebo o desejo passar pelos olhos dela.

No entanto, continuamos vagando como almas perdidas.

E vou descobrindo sobre ela coisas que ela gosta quando não está pensando em sangue e guerra.

Descubro que ela gosta de nadar em rios e de pescar com as mãos.

Que gosta de olhar as estrelas.

Que a voz dela é ainda mais linda quando ela canta.

Que ela precisa de violência. É parte dela. Mesmo longe da guerra.

Então ela começa a matar bandidos.

Tudo começou quando estávamos em paz, na beira de um lago, assando uns peixes.

Uns onze rufiões apareceram para nos roubar.

Duas garotas sozinhas, sem um homem. Presas fáceis, eles julgaram.

Eu caí no chão rindo quando percebi a situação.

Como sempre, eu confirmando minha reputação de maluca.

Infelizmente não participei da luta. Apenas ri durante o processo. Ela acabou com todos eles.

Depois resmungou para mim que eu era uma folgada.

Quando foi reportar os corpos deles para a milícia, descobriu que eram procurados e havia uma recompensa.

E foi aí que ela achou sua nova vocação. Mercenária. E aparentemente, sou sua adorável assistente com um dinar a menos de escrúpulos.

Ela passa os próximos dias num frenesi da caça à bandidos.

– Nunca imaginei que fosse tão divertido acabar com escória como eu – ela comenta.

Depois de um tempo se torna mais metódica. Não pega qualquer trabalho. Ela gosta das pausas em frente a cachoeiras.

Mas ela faz o trabalho de graça também. Quando ninguém está pagando, ela os mata igualmente.

Não se engane. Não somos pessoas boas. Ela precisa matar. E matar bandidos é apenas um jeito seguro de satisfazer essa ânsia.

Mas mesmo assim, as pessoas começam a contar com ela. Pessoas simples. Pessoas como as que ela matou em Cirra. Eles não sabem que ela é quem quase os destruiu a algum tempo atrás.

Ela resmunga, mal humorada, toda vez que algum aldeão a agradece por tê-los salvado.

E sei que, nesses momentos, ela pensa no que poderia ter sido. No que ela quase foi.

Eu também penso.

Não nos tornamos rainhas de reinos, nem donas do mundo.

Só viramos duas aberrações errantes, sustentando uma à outra para não cair.

E, de algum modo, isso é mais do que eu jamais ousei desejar.

A vingança morreu. A adoração morreu.

O que sobrou foi esse amor estranho, sujo, imperfeito.

Esse amor me salvou.

Talvez a tenha salvado também.

Talvez tenha salvado o mundo do jugo da Conquistadora.

Tenho a impressão que minha alma me foi retornada. O roubo foi desfeito. Eu não estou mais vazia.

Ela me preenche, mas também me preenchem o sol, a lua, as estrelas, as águas. Tudo parece estranhamente mais bonito. Até as pessoas parecem mais pessoas, e não coisas em meu caminho.

Sinto que preciso dela, mas não morreria sem ela. Tem algo em mim hoje, que me pertence. Pode ter vindo dela, mas é meu. É vivo de verdade. Eu estou finalmente viva de verdade.

Ainda lutamos todo dia. Ainda é nossa coisa. Às vezes, é mais importante que o sexo.

Ainda sou um empate para ela. Essa eterna fronteira a prende a mim. A ideia que um dia vai me vencer, talvez, e essa vitória nunca chega.

E não quero que chegue.

Posso não morrer sem ela, mas ainda a quero com desespero irracional. Acho que essa fragilidade fundamental em mim é incurável.

E sinto, quando ela se aferra a mim, quando me beija como se quisesse me absorver, quando me aperta tão forte que me machuca, que ela precisa de mim também. Que sem mim ela cairia nas entranhas do ódio novamente. Começaria a se vingar do mundo novamente.

E eu me agarro à ela, com a mesma necessidade.

Não quero eu e ela nos poços do ódio. Da vingança. Nos quero assim. Segurando uma à outra à beira da aniquilação.

Hoje, estamos deitadas à sombra de uma árvore, as armas largadas ao alcance da mão.

Ela cochila, uma das pernas jogada displicentemente sobre a minha.

Se eu quisesse, poderia matá-la agora. Fácil.

Sempre pude, na verdade.

Mas nunca desejei menos matá-la do que neste momento.

Minha mão desliza distraidamente pelos cabelos desgrenhados dela.

Ela resmunga, se aconchega mais em mim.

Ela abre os olhos, semicerrados pelo sol.

– Tá me encarando feito uma psicopata de novo – ela murmura, a voz rouca de sono.

– É como eu faço – respondo, sem conseguir segurar um sorriso.

– Eu estava pensando… – ela começa, ainda não totalmente acordada.

– Nunca um bom sinal – retruco.

Ela abre só um olho, que me fuzila.

– Estava pensando em ir até Amphipolis.

Estreito os olhos.

– O que espera encontrar lá?

– Bem… minha mãe ainda está lá. Acho.

– A que te odeia.

– Só tenho essa.

– Bem… pelo menos você tem uma.

Ela ri baixinho. Encosta o rosto no meu peito. Fecha os olhos de novo.

É isso mesmo. A gente brinca sobre o fato que ela matou minha família.

Eu avisei que somos aberrações.

Eu olho para o céu. Azul e limpo, se espreitando entre as folhas. Nenhum destino grandioso escrito nas nuvens.

Não sei onde estaremos amanhã. Nem se estaremos vivas.

Mas hoje, aqui, somos só duas almas quebradas, encontrando paz uma na outra.

Eu comecei falando que não queria ser feliz, mas hoje eu sou, quase contra minha vontade.

Continuo sem saber o que é bom, mas acho que sei o que é verdadeiro.

Eu e ela, certamente.

Somos só duas crianças más, e mesmo assim, encontramos o que todo mundo procura.

Amor.

Nota