Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    O homem tremia encolhido junto a uma parede enquanto ouvia os barulhos da luta. Não parava de rezar ao seu deus, esperando que, a qualquer momento, ainda que no último, ele viesse em seu socorro. Afinal, era seu escolhido. Não seria abandonado à própria sorte.

    O homem viu, apavorado, a maçaneta da porta começar a se mexer. Só eu tenho a chave, pensava alucinado, ela não tem como entrar, só eu…

    O barulho alto de um clique metálico e o ranger da porta fez o homem sentir todo o sangue fugir de seu rosto.

    Uma pequena mulher loira entrou no quarto. O homem ficou confuso por um momento.

    – Ga… Gab… – gaguejou o homem. Suas palavras sumiram quando uma alta mulher morena apareceu logo atrás da loira e fechou a porta atrás de si.

    – Ares – sussurrou o homem – Ares, por favor.

    – Ares está morto – falou Xena – eu o matei.

    – Isso é impossível – disse Acestes – ele é um deus, isso é…

    – É fácil testar – disse Xena, avançando – posso começar a esfolar você bem devagar. Se for mesmo seu escolhido, ele aparecerá para salvá-lo. Se não, ou o abandonou, ou está morto. De qualquer forma, não faz diferença para você não é? Se bem que – olhou para Gabrielle – não é que tinha razão loirinha? Aquela adaga me seria útil agora.

    O homem se ajoelhou e começou a derramar lágrimas.

    – Xena! – implorava o homem – Xena, ele me obrigou! Eu não queria, eu não queria…

    – Oh, pelo amor dos deuses! – Xena desferiu um chute no estômago do homem, que se curvou tremendo e ofegando – não consegue ter honra nem mesmo na morte?

    – Tenha misericórdia! – o homem gritava – eu imploro, Xena! Tenha misericórdia!

    Xena continuou a chutar o homem encolhido no chão.

    – Foi ele! Foi tudo ele! – o homem cuspia e chorava.

    Xena abaixou-se, ergueu o homem e jogou-o contra a parede.

    – Loirinha, acho melhor sair daqui – disse Xena – isso vai ficar feio.

    – Não vou a lugar algum, Xena – respondeu Gabrielle.

    – Não diga que não avisei.

    Acestes olhou para Gabrielle.

    – Gabrielle! Me ajude! Não fui eu! Foi Ares! Eu juro!

    – Está dizendo que não permitiu que seus homens violentassem Eris? – perguntou a amazona.

    Xena olhou para Gabrielle. A mulher não tinha lhe contado esse fato, nem a escrava. Esmurrou o rosto de Acestes, que choramingou enquanto o sangue escorria do canto de sua boca. A vontade de despedaçar o bastardo era imensa, mas ela se segurou.

    – É o que diz, Acestes? – perguntou Gabrielle novamente.

    – A culpa é de Xena! – balbuciava Acestes – Xena não permitia…

    Gabrielle golpeou as pernas do homem com o cajado, e ele gritou de dor.

    – Nada é culpa sua, é isso? – perguntou Xena – você tinha uma vida confortável, Acestes. Eu te dava tudo que queria. Boa comida, uma cama confortável. Só precisava que ficasse quieto. O que Ares lhe ofereceu?

    O rosto do homem passou de apavorado para raivoso.

    – Você me menosprezava! – rugiu o homem – Me humilhava! Me tratava como um…

    – Como o idiota que é?

    – É uma camponesa! Uma selvagem! – gritava o homem – eu sou um nobre!

    Gabrielle o olhou com desprezo.

    – Ares pode ter te dado o poder que não tinha – disse Gabrielle – mas ele só te deu a coragem de mostrar a imundície que já tinha dentro de você.

    – Como se atreve! – gritou o homem – eu te dei tudo, Gabrielle! A protegi, cuidei de você!

    Xena encostou a ponta da espada no peito do traidor.

    – Ares! Ares! Socorro!

    – Estou cansada de conversa – rosnou Xena – mas – afastou a espada – tenho melhores usos para você.

     

    ***

     

    O burburinho era alto no salão da corte. Os nobres cochichavam entre si, sem entender o chamado urgente de seu louco rei. Os portões de entrada se abriram com estrondo. O barulho de metal arrastado foi ouvido antes de aparecer a imagem de Acestes, amordaçado, algemado nos pulsos e tornozelos. Xena puxava-o por uma corrente em seu pescoço. Gabrielle vinha logo atrás dela e, seguindo as duas, um pequeno bando de soldados.

    As exclamações de surpresa percorreram o salão. Algumas pessoas desmaiaram. Vários deles sentiram uma súbita ânsia de passar a mão na própria garganta. Alguns olharam para o portão alarmados, e sentiram o fôlego ir embora quando viram a pequena figura loira trancar o portão atrás deles, bloqueando a rota de fuga mais próxima, e os soldados se postarem nos corredores laterais.

    Xena arrastou seu prisioneiro até o palanque do trono e se virou para a plateia assombrada. Golpeou as pernas do homem, que caiu de joelhos. Sorriu para sua audiência, que não produzia o mínimo som.

    – Olá.

    Apreciou por um momento os rostos apavorados. Era revigorante.

    – Ouvi dizer que se divertiram muito em minha ausência – continuou Xena – estou magoada.

    Começou a acariciar os cabelos de Acestes, que tremia e olhava para o chão, parecendo em absoluto choque. Um nobre, de repente, levantou-se e dirigiu-se para o meio do salão, enfurecido.

    – Não a aceitaremos de volta! – gritou o homem, trêmulo de raiva – vá embora! Vocês – olhou para os outros ao seu redor, que evitavam retribuir o olhar – não podemos permitir que….

    – Silêncio! – gritou Xena, e o homem se calou – Gabrielle – chamou a rainha docemente – venha aqui, por gentileza.

    Hesitante, Gabrielle subiu até o palanque do trono. Xena afagou mais uma vez os cabelos suados de Acestes.

    – Cuide um momento do nosso amigo aqui, por favor? – Xena estendeu a corrente a Gabrielle.

    Gabrielle segurou os ferros, sem entender. Xena desceu as escadas e andou até o homem no meio do salão, que parecia absolutamente arrependido de seu impulso.

    – Dardanos, meu bom amigo – começou Xena – como vai sua esposa, Melaine?

    – Não se atreva a falar dela…

    – É verdade que a jogou no calabouço depois que ela veio para minha cama?

    Cochichos escandalizados percorreram o salão. O homem ficou vermelho de fúria.

    – Aberração! – gritou o homem – prostituta!

    – Acho que devia me agradecer. Salvei seu casamento. A pobre mulher me disse que você não estava comparecendo – Xena sacou a espada – e pude perceber pela forma que ela montou em mim que já não sabia o que era uma boa trepada há um bom tempo.

    O homem sacou a espada e atacou Xena. Num único golpe, ela cortou metade do pescoço do aristocrata. As pessoas gritaram quando o sangue esguichou sobre elas. O corpo do homem caiu em convulsão, a cabeça pendurada por um naco de carne, o osso visível, até que ele parou de se mexer.

    – Acho que vou visitar Melaine ainda hoje – Xena se aproximou de um jovem lorde que estava ali perto e limpou o sangue de sua espada na roupa dele – penso que ela ficará agradecida. O que me diz, rapaz?

    O jovem abriu e fechou a boca, mas não saiu nenhum som. Xena deu dois tapinhas leves no rosto dele e sorriu.

    – Assim que eu gosto – falou.

    A rainha voltou ao palanque do trono.

    – Mais alguém tem alguma colocação?

    Apenas o barulho de respirações se ouvia.

    – Ótimo – continuou Xena – bem, deixe eu dizer-lhes como as coisas vão ser a partir de agora. Ophelia, venha até aqui.

    A mulher saiu do meio da pequena multidão de aristocratas e caminhou até a rainha. Baixou a cabeça e fez uma reverência.

    – Sua Majestade.

    – Me diga, Ophelia, e responda a verdade, a não ser que queira acabar como Dardanos. Você estava de acordo com esse golpe?

    A mulher olhou para a rainha. Tremia, mas seu olhar era firme.

    – Não, sua majestade – disse a mulher, sem hesitar.

    Xena sorriu, satisfeita.

    – Imaginei que não. Porque não fez nada, Ophelia?

    – Somos poucos, minha senhora.

    – Sabe quem está ao meu lado e quem não está?

    – Minha senhora, me tiraram minhas terras e as entregaram ao meu cunhado. Me expulsaram de vosso conselho.

    – Ah – Xena deu voltas no palanque – terá suas terras de volta, Ophelia. Agora responda o que perguntei.

    – Sei, majestade – afirmou a mulher.

    – Muito bem – disse Xena – Ophelia, a partir de hoje, é a herdeira desse trono maldito. Você e sua descendência vão governar quando eu morrer.

    O queixo da mulher caiu. O salão começou a fervilhar de conversas.

    – Minha senhora? – a mulher questionou, cautelosa – mas, certamente… sua majestade é jovem, pode ter filhos e….

    – Te pareço o tipo maternal, mulher?

    – Minha senhora, isso é sem precedentes.

    – Está me dizendo que não quer ser rainha?

    A mulher ruborizou.

    – Aceito humildemente a incumbência, minha senhora – disse a mulher, fazendo mais uma reverência – mas…

    – Assunto encerrado. Pode voltar a seu lugar.

    A mulher fez uma reverência e voltou. Várias pessoas se aproximaram dela e começaram a cochichar, algumas dando parabéns. Outros a olhavam escandalizados.

    – Agora, ao espetáculo principal.

    O silêncio baixou de novo no salão. Xena começou a dar voltas ao redor de Acestes, que não tinha erguido ainda a cabeça. Olhou para o homem aos seus pés. Lembrou de todas as formas com que tinha fantasiado despedaçá-lo, todas as vezes que sua perna doía ou quando via as cicatrizes de seu corpo. Como queria lhe causar dor, como queria vingar-se!

    Deveria fazer isso na frente de todos. Injetar pavor em seus súditos. Eles esperavam que ela fizesse isso. Podia ver em seus rostos que aguardavam o espetáculo de sangue. Alguns já tinham coberto o rosto, outros olhavam fixamente em mórbida fascinação.

    Xena olhou para Gabrielle. A loira tinha o rosto resignado. Ela também esperava pelo seu arroubo de crueldade. Sentiu um mal-estar.

    A rainha grunhiu de frustração. Sentia-se exausta de tantos sentimentos conflitantes. Quando as coisas tinham parado de ser simples?

    – Acestes – falou finalmente Xena, encostando a ponta da espada no pescoço do homem – pelo crime de traição está condenado à morte.

    As pessoas prenderam a respiração.

    – Será enforcado amanhã, ao meio-dia, na praça da cidade – completou Xena.

    Acestes levantou os olhos, sem acreditar. As pessoas ofegaram. Gabrielle piscou, confusa.

    – A corte está encerrada – disse Xena – tirem esse maldito da minha frente e joguem-no no calabouço.

    ***

     

    A notícia logo se espalhou. Xena estava de volta. A rainha podia sentir o cheiro do medo por todo o castelo.

    Ophelia lhe contou como Acestes começara suas maquinações, e a rainha percebeu que eles não sabiam que era Ares que controlava o homem. Xena percebeu que teria que reestruturar tudo. Mas Ophelia estava muito disposta a manter seu novo posto e a mediar com a nobreza.

    Alguns pescoços se uniram ao de Acestes na forca, entre nobres e oficiais. Xena teve cuidado em não culpabilizar os baixões escalões do exército, de modo a manter seu apoio nas bases. Ophelia a ajudou a executar o mínimo de pessoas. Muitos dos traidores imediatamente voltaram atrás, pedindo perdão e se desfazendo em concessões, por medo de perderem suas vidas. Ao final, Xena estava satisfeita com as mortes.

     

    ***

     

    Depois de assistir a execução de Acestes, Gabrielle voltou para o castelo e se dirigiu ao quarto que Xena lhe destinara. Ainda não encontrara nenhum dos seus amigos, pois o castelo estava bastante bagunçado em sua reestruturação. Perguntava-se se conseguiria vê-los antes de partir. Começava a arrumar seus pertences quando ouviu batidas na porta.

    Abriu e deu de cara com Xena, que usava um dos seus melhores trajes de rainha. Os olhos azuis da mulher imediatamente se dirigiram para a bolsa sobre a cama e ela ergueu uma sobrancelha.

    – Está partindo? – perguntou a rainha.

    Gabrielle terminou de abrir a porta para a rainha passar e voltou a pôr as coisas na pequena bolsa.

    – Sim – respondeu.

    – Aonde pretende ir? – perguntou Xena.

    – Ainda não sei – disse Gabrielle, pendurando a bolsa em seu ombro – acho que vou simplesmente andar por aí por um tempo. Ver o que acontece. Xena…

    – Hum?

    – Vai cuidar deles, certo? – perguntou Gabrielle, hesitante.

    – Se refere aos escravinhos? Pode apostar, loirinha. Enquanto eu for rainha, eles estarão seguros.

    – Então desejo que seja rainha por muito tempo.

    Xena sorriu. Gabrielle devolveu o sorriso.

    – Não quer… hum – Xena pigarreou – ficar alguns dias? Ver seus amigos e essas coisas.

    – Eu gostaria – respondeu Gabrielle – mas não vou. Preciso ir. Pensar bastante.

    – Entendo – disse Xena, inquieta e olhando para os lados – entendo. Bem, então, adeus.

    – Adeus, Xena.

    Gabrielle apertou levemente o ombro da rainha, lhe dirigindo um último sorriso. Atravessou a porta e saiu.

    Xena contemplou a passagem vazia por alguns segundos. Um nó apertou sua garganta. Quando saiu para o corredor, não havia mais sinal de Gabrielle.

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