Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    Gabrielle reparou, um pouco constrangida, que tinha escalado o corpo de Xena durante o sono, e a mulher adormecida a segurava nos braços.

    Levantou os olhos para observar o rosto da rainha e notou que, mesmo em seu sono, uma aura de poder e assertividade parecia delinear os traços da mulher. As linhas fortes do queixo e os contornos da sobrancelha moldavam sua expressão de um modo que, mesmo quem não soubesse sua identidade, provavelmente pensaria duas vezes antes de incomodar a mulher.

    Gabrielle acariciou suavemente entre os seios da mulher e a rainha abriu os olhos, direcionando os indagadores círculos muitíssimo azuis até ela.

    – Oh – exclamou Gabrielle – tem um sono leve.

    A barda fez menção de se afastar, mas Xena a segurou.

    – Não precisa – disse a rainha.

    Gabrielle voltou a se achegar no corpo da mulher, e continuou a carícia que tinha interrompido. Sentiu uma das mãos da rainha acariciar, hesitante, seu cabelo.

    Ficaram um tempo em silêncio. Gabrielle percebeu o carinho da rainha ir tornando-se mais confiante e relaxado.

    – Gabrielle – disse Xena – tenho que voltar para Corinto. Deixei tudo nas mãos de Ophelia, e ela sabe o que faz, mas…

    – Eu sei.

    Xena fez menção de levantar-se e Gabrielle a soltou. A rainha encarou a outra mulher por um momento, e depois inclinou-se para deixar um beijo suave em seus lábios.

    – Quer ir para Corinto comigo? – perguntou Xena, surpresa com a ansiedade em sua própria voz.

    Gabrielle baixou os olhos, parecendo conflituosa. Xena sentiu aquela estranha dor que só sentia quando estava perto da barda. Pareceu ouvir a voz dela dizendo. Não, Xena. Só queria mais uma noite com você. Agora seguiremos caminhos distintos.

    – Pode ser daqui a um tempo? Estou em uma espécie de, hum, missão – respondeu a loira.

    – Missão? – perguntou a rainha, curiosa.

    A barda mordeu os lábios. Não tinha muita certeza se queria dizer à Xena o que andava fazendo.

    – É uma coisa minha – respondeu.

    – Oh. Entendo – a rainha levantou-se, e começou a vestir suas roupas. Gabrielle percebeu que ela parecia contrariada.

    – Xena? O que tem? – perguntou Gabrielle, levantando-se e enrolando-se no cobertor.

    – Nada – disse a morena, com uma voz neutra – sempre que quiser visitar Corinto, será bem recepcionada, Gabrielle. Adeus – deu as costas e começou a se afastar.

    – Xena, espere.

    A rainha virou-se bruscamente.

    – O que foi, Gabrielle? Precisa de mais alguma coisa?

    O tom de voz era seco e cortante. Gabrielle arregalou os olhos, surpresa com a reação da mulher. Escrutinou a expressão da rainha e viu que, ela lutava para esconder, mas estava magoada. Ferida.

    Oh, deuses.

    Aproximou-se de Xena e a abraçou. A rainha titubeou, mas logo devolveu o abraço. Gabrielle ergueu os olhos para ela e percebeu a confusão em seu rosto.

    – Irei para Corinto em breve – falou Gabrielle – para ver você.

    O rosto da rainha expressava descrença.

    – Eu estou… humm… depois do que aconteceu com Ikari comecei a me perguntar o que teria acontecido com as outras amazonas que eu bani – falou Gabrielle.

    A rainha fez uma cara de espanto.

    – Rastreei a maioria delas – contou a barda.

    – Uma missão perigosa, Gabrielle.

    – Mas eu precisava fazê-lo. Não queria deixar pontas soltas.

    – Suponho que isso não significa que você resolveu finalmente matá-las.

    – Não. Queria vê-las. Conversar com elas. Queria – a barda baixou os olhos – lembrar, junto com elas.

    Xena sentiu a fisgada da culpa a atravessar, mas tentou não demonstrar.

    – E como foram esses reencontros? – perguntou.

    – A maioria muito bom. Algumas eram bem jovens quando Piamma fez suas cabeças. Não sabiam muito bem o que faziam. Não me culpam, e hoje entendem o que aconteceu. Na verdade, muitas ficaram felizes. Foi maravilhoso reencontrá-las.

    – Bem, que bom então – era difícil ouvir Gabrielle falar sobre aquilo, mas a barda parecia tranquila em contar.

    – Acho que encontrei a última delas. Está numa cidade a alguns dias de distância daqui. Queria resolver isso, antes de ir para Corinto. Não queria dizê-la, porque…

    – Tinha medo que eu pretendesse finalizar o trabalho que comecei? – perguntou a rainha.

    – Não, Xena. Receava que o assunto a deixasse triste.

    Xena contraiu o rosto.

    – Achou que o assunto fosse entristecer… a mim?

    – Sim – comentou Gabrielle, envergonhada – sei que me acha fraca por essas coisas, mas me parece que tenho isso mais resolvido que você. Não queria lhe causar desconforto.

    – Ah, Gabrielle – a rainha acariciou o rosto da barda – é uma estúpida santinha.

    – Não tenho como evitar – disse Gabrielle, dando de ombros.

    – Tenha cuidado, então. Não tem como saber se essa mulher não vai ser uma segunda Ikari.

    – Está preocupada? – perguntou a barda.

    Xena pigarreou e desviou os olhos.

    – Apenas um aviso – respondeu.

    Gabrielle sorriu.

    – Terei cuidado. Te vejo em alguns dias. Tudo bem?

    – Sim. Então… adeus?

    A loira ergueu-se na ponta dos pés e beijou os lábios da rainha.

    – Até breve – respondeu.

     ***

    Quando finalmente estava de novo diante de Corinto, a rainha parou o cavalo. Contemplou a grande cidade, que abundava em vida e riqueza. Graças a ela, à sua liderança. O império crescia, as pessoas se multiplicavam, a fome praticamente não existia.

    Ela sabia que seu nome estava escrito nas páginas da história. Sua vida dividiria lugar ao lado dos conquistadores que já tinham ido e dos que estavam por vir. Não tinha interesse em fazer uma dinastia, mas, enquanto ela respirasse sobre a terra, seu nome se faria gigante, e as pessoas lembrariam.

    Então porque, tudo que desejava nesse momento era deixar tudo aquilo para trás e seguir Gabrielle, aonde quer que ela fosse? Porque sentia que trocaria num piscar de olhos sua grande cama macia pela promessa de muitas noites sob as estrelas ao lado da barda?

    A única resposta que ela conseguia dar a tudo isso era que estava ficando senil. Talvez os verões quisessem começar a cobrar seu preço precocemente, e ela se tornaria incoerente e louca antes do planejado.

    Sorriu ao imaginar os bardos cantando nas tavernas histórias cômicas sobre Xena, a Rainha Caduca. Seria Gabrielle um desses bardos um dia?

    Contra todos os instintos que a mandavam voltar, Xena cavalgou até o seu castelo. Os guardas já estavam aprendendo a reconhecê-la em seus trajes funcionais, e não interromperam sua entrada. Quando atravessou os portões, Anteia já vinha em sua direção.

    – Seus aposentos estão prontos, minha senhora. Estamos felizes em vê-la.

    – Felizes, claro – riu a monarca – não a pago para mentir pra mim, Anteia.

    – Não minto, senhora – disse a mulher.

    – Pois muito bem. Onde está Ophelia?

    – Está no salão principal resolvendo audiências, minha senhora. Quer que a comunique de seu retorno?

    – Não. A deixe. Pode ir.

    A mulher se curvou e foi cuidar de seus afazeres. Xena caminhou discretamente até o salão principal. Assistiu, escondida nas colunas, a regente solucionar uma série de pequenos conflitos. Como Xena faria, costumava decidir da forma mais justa possível, levando em consideração os menos favorecidos e os que não tinham poder para se defender. Também tinha esperteza suficiente para identificar e rechaçar os que tentavam se aproveitar de seu sistema justo. Xena sorriu com aprovação.

    Lá pelo meio das sessões, a ruiva finalmente notou sua presença e lançou para ela um olhar aborrecido. Xena acenou. A regente levantou-se e disse, soberana:

    – Volto daqui a alguns minutos.

    Algumas pessoas protestaram, mas a mulher comandou:

    – Silêncio! Disse que volto daqui a alguns minutos. Não vejo ninguém à beira da morte aqui, então por que a pressa? Se realmente querem resolver suas questões, esperarão.

    E sem mais, a mulher foi em direção à Xena, pegou-a pelo braço, e a arrastou para fora do salão, enfiando-a no mais próximo aposento desocupado.

    – Resolveu seja lá o que for que tinha para resolver? – perguntou Ophelia, impaciente.

    – Estou bem e você? Já faz alguns dias.

    – Claro, é a rainha da simpatia agora. Me responda. Não quero ficar sendo pega de surpresa por seus caprichos.

    Xena perguntou-se se podia contar à mulher o que fora fazer. Talvez fosse bom para a rainha regente saber que sua monarca estava perdendo a sanidade. Por outro lado, a mulher talvez se aproveitasse de sua fragilidade e lhe desse um golpe de estado. Percebeu-se quase gostando da ideia.

    – Estava com Gabrielle, Ophelia.

    – Gabrielle? – a mulher pareceu confusa – quem raios é Gabrielle?

    Xena ergueu a sobrancelha.

    – A barda de Potedia?

    – Ah – a mulher fez uma expressão de quem se lembrava – a rainha das amazonas que humilhou no salão principal e Acestes adotou.

    Xena resmungou.

    – Sim, ela.

    – O que foi fazer com essa mulher? Ela já não teve o suficiente em suas mãos?

    Xena percebeu-se arrependida de ter começado a falar. Ophelia era implacável.

    – Ela me chamou. Aquele recado que me viu lendo, ela tinha enviado.

    – Oh – a mulher estava intrigada – algum tipo de armadilha para degolar você?

    De certa forma, pensou a rainha.

    Xena pigarreou. Percebeu que tinha dificuldade em olhar a regente nos olhos.

    – Eu e ela, bem – Xena percebeu as próprias mãos suarem e xingou internamente todos os deuses – nos beijamos.

    Por Zeus. Que idiota, pensou.

    Ophelia a olhava como se seus cabelos tivessem se transformado em cobras.

    – Xena, você…

    A rainha leu a expressão da mulher.

    – Não a forcei a nada – disse Xena – começou nas festas dionisíacas, nós…

    Viu-se sem palavras. Ophelia estava no limite da paciência.

    – Xena, de que está falando? Explique logo o que está acontecendo. Não está fazendo nenhum sentido.

    – Não sei explicar, Ophelia. Não sei o que está acontecendo. Ela pediu que eu fosse, e eu fui. Pescamos juntas.

    – Pescaram… juntas?

    A cara da rainha regente confirmava sua teoria sobre a própria loucura.

    – Olha, esqueça, não farei algo assim de novo, está bem? Não precisa se preocupar – e virou-se para sair, mas Ophelia a segurou pelo braço.

    – Xena, espere.

    A rainha interrompeu-se e olhou novamente para a regente.

    – Está tendo um relacionamento com essa mulher? – perguntou Ophelia.

    – Um relacionamento? Como assim? Não enten…

    – Nunca a vi falar assim sobre ninguém. Não é assim que fala das pessoas com quem dorme. Costuma ser muito mais…

    – Não tem relacionamento – interrompeu a rainha – foi uma coisa dos festivais e…

    – E larga tudo quando a mulher lhe chama para… pescar.

    Xena empertigou-se e tentou mostrar alguma dignidade.

    – Gosto de pescar. Além do mais, ela é muito boa em…

    – Shhh. Por favor, me poupe de suas gráficas descrições. Xena, pelo amor de Afrodite. Está apaixonada por esta mulher.

    Ophelia a encarava com um olhar ao mesmo tempo trágico e divertido.

    – Está louca – respondeu a rainha.

    – Sente como se tivesse o coração partido ao estar perto dela e, ao mesmo tempo, não vê a hora de estar com ela de novo?

    A rainha arregalou os olhos para a outra mulher.

    – Oh, Xena – Ophelia parecia compadecida – de todas as pessoas… e ela gosta de você?

    – Eu não sei – respondeu a rainha – só sei que ela não me odeia por tudo que fiz.

    – Bem, então ela é muito melhor que você e eu.

    A rainha baixou os olhos.

    – Eu concordo – disse Xena – por isso não entendo como ela pode…

    – É o contrário, Xena – respondeu Ophelia – é justamente por isso que ela pode.

    – Não sei o que fazer, Ophelia.

    – Onde ela está agora?

    – Resolvendo questões pessoais. Disse que viria para Corinto em alguns dias.

    – Então devemos ficar prontas para recebê-la, certo?

    – Não acho que ela virá – respondeu Xena.

    – Aposto que essa dúvida atormenta você mais que a morte.

    – É um maldito oráculo agora? – resmungou a rainha.

    – Se não fosse rainha, Xena, o que faria nesse exato momento?

    – Correria até ela – a rainha assustou-se com a rapidez que as palavras voaram de sua boca.

    – Façamos o seguinte – disse Ophelia – preciso de você aqui para resolver algumas questões essenciais. Quando terminar, a libero por mais alguns dias para ir buscar sua garota.

    – Ela não é… – começou Xena.

    – E não a deixe escapar – continuou a regente – acredite quando digo que não há muitas como ela. E pelo amor dos deuses, Xena. Diga o que sente, antes que seja tarde.

    – Eu não sei… – a rainha tentou falar novamente.

    – Está decidido. Vamos?

    A rainha desistiu de falar e seguiu a regente.

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