Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    Elas chegaram à orla da floresta. Por dentre as árvores podiam ver o pequeno povoado adiante, que pululava de movimento e vida.

    – Que me diz? – Xena sorriu, olhando o movimento das pessoas – me esgueiro até lá, mato, digo, nocauteio algum mercador idiota e pegamos o que precisamos.

    – Isso não é necessário – retrucou Gabrielle – temos dinares suficientes nessas algibeiras. Posso ir até lá e comprar. Chamo menos atenção.

    – Entediante. Ok, loirinha, faça do seu jeito. Lembre de trazer umas boas adagas. É uma merda destripar lebres com espadas.

    – Lembrarei. Dê-me os dinares.

    – Ei! Peça educadamente.

    Gabrielle a fulminou com os olhos.

    – Você não tem senso de humor, loirinha – Xena largou a bolsa de moedas na mão estendida de Gabrielle.

    – Espere aqui. E não mate nada, ou ninguém.

    Xena ergueu uma mão com o dedo indicador e médio cruzados. Gabrielle saiu da floresta, em direção ao povoado.

    Xena recostou-se numa árvore. Ao longe, ouvia os sons da pequena aldeia. Olhou ao redor. A floresta ressoava de barulhos. Um pássaro pousou no arbusto à sua frente. Lamentou não estar carregando uma besta ou uma adaga. Podia passar o tempo matando os pequenos bichos. Começou a andar de um lado para outro, a arrancar folhas e quebrar galhos. Sacou a espada e iniciou uma luta mortal contra uma árvore, que perdeu significativa parte de seu corpo. Estava prestes a dar o golpe final quando ouviu os passos de alguém se aproximando.

    – Então resolveu assassinar plantas – Gabrielle olhava a pilha de galhos e folhas pelo chão.

    – Se demorasse mais, começaria a arrancar as cabeças dos animaizinhos – olhou as roupas novas e limpas que Gabrielle trazia – temos que tomar um banho antes de vestir isso. Estamos imundas – olhou curiosa para o bastão que Gabrielle carregava – pra que quer esse pedaço de pau?

    – É um bastão de batalha – corrigiu Gabrielle – detesto espadas.

    – Cada um tem seu gosto – Xena guardou a própria espada – tem uma ótima lagoa logo ali.

    Assim que chegaram ao local, Xena começou a se despir. Gabrielle levou um susto e deu as costas.

    – Esperarei aqui atrás – Gabrielle adentrou as árvores.

    – Pensei que amazonas eram acostumadas com banhos comunais – Xena tirou sua última peça de vestimenta – não me importo que olhe.

    – Sei que não se importa – Gabrielle fixou o olhar na árvore à sua frente.

    – Bem, você que perde, loirinha.

    Gabrielle ouviu o barulho de passos correndo e o baque de um corpo na água. Escutou uma risada soar.

    – A água está maravilhosa!

    Gabrielle fechou os olhos e cerrou os dentes.

    Pare de pensar como uma adolescente idiota, Gabrielle.

    Os barulhos da água ecoavam, assim como os sons de deleite da mulher que se banhava. Era uma toada alegre e despretensiosa que a amazona tinha dificuldade em associar com a imagem que fazia da conquistadora.

    – Gabrielle! – a voz de Xena soou – vem aqui, rápido!

    – Vou ficar aqui, obrigada – Gabrielle gritou em resposta.

    – Falo sério, preciso que pegue uma coisa pra mim – gritou Xena.

    Gabrielle passou a mão pelos cabelos, levantou-se e foi em direção à lagoa. Um peixe veio voando em sua direção. Deu um grito de susto e tentou segurar o bicho, mas ele deslizou e caiu no chão. Xena gargalhou com vontade.

    – O que pensa que está fazendo?!

    – Lá vai outro! – gritou a morena.

    Xena mergulhou e sumiu por alguns minutos. Emergiu com um peixe em cada mão os atirou em direção à Gabrielle, que dessa vez conseguiu agarrá-los no ar e depositá-los em cima da sacola.

    – Boa pegada, loirinha!

    Xena mergulhou mais uma vez e atirou outro peixe em sua direção. Gabrielle não conseguiu evitar um meio sorriso. Era uma das coisas mais inusitadas que já tinha visto em sua vida. Foi tirada de sua divagação pela figura despida de Xena saindo do lago. Recolheu os peixes e correu para trás da árvore onde estava, o coração saltando no peito.

    Não podia se permitir começar a relaxar ao redor daquela mulher.

    Ela pode a qualquer hora decidir me matar. Tenho que permanecer alerta.

    O barulho de Xena se aproximando interrompeu seus pensamentos. Ela apareceu, já vestida nas roupas que Gabrielle comprara, muito melhor ajustadas ao seu corpo que as roupas anteriores.

    – Acertou bem meu tamanho, loirinha. Todo aquele tempo cuidando da minha carcaça lhe fez decorar minhas proporções?

    Provavelmente. Gabrielle pensou, mas não respondeu.

    – Já pode ir. Prometo que não vou espiar.

    Gabrielle levantou-se e foi apressadamente para o lago. Tirou as roupas imundas e mergulhou.

    Xena tinha razão, a água estava maravilhosa. Sentiu seu corpo relaxar ao ser massageado pela calma ondulação do lago. Nadou e achou um ponto em que seus pés tocavam o fundo barroso. Afundou os dedos na terra fria e sentiu como se o peso que carregava no corpo começasse a se dissolver no solo. Deu-se conta de como estava cansada de todas as emoções desgastantes que vinha arrastando.

    Suas tragédias, seus traumas, suas dores, suas escolhas equivocadas.

    Nadou e mergulhou. A lagoa era límpida. Abriu os olhos e viu peixes nadando ao seu redor. Perseguiu um e tentou agarrá-lo, mas sequer consegui tocá-lo. Parecia ser uma coisa difícil. Perguntou-se como Xena conseguia.

    Emergiu, sentindo a cabeça leve pela primeira vez em muito tempo. Esfregou bem o corpo para tirar todos os resquícios de sujeira. Saiu e vestiu-se. Foi até onde estava Xena.

    A morena murmurava uma música enquanto destripava os peixes. O céu dava os primeiros sinais que o sol ia começar a se pôr.

    Gabrielle sentou-se na frente da outra mulher.

    – Quem é você? – perguntou Gabrielle.

    – Que raio de pergunta é essa? – Xena decepou a cabeça de um peixe – bateu a cabeça numa pedra dentro da lagoa?

    – Não a reconheço. Parece outra pessoa.

    – Como assim? Imaginava que não ia querer fedor de peixe nas mãos? Já lhe disse, Gabrielle. Não passei a maior parte da minha vida na corte. Não sou uma almofadinha.

    – Não é apenas isso – contestou Gabrielle – parece feliz. Nunca a vi feliz.

    Xena parou de destripar o peixe e fitou Gabrielle com um olhar ameaçador. Gabrielle sustentou o olhar. Ficaram em silêncio alguns momentos. Xena finalmente falou:

    – Acho que respiro melhor sem o fedor de maquinações, traição e desconfiança por todos os lados. Além do mais – voltou a destripar o peixe – adoro pescar. E já não o fazia há muitos anos.

    Gabrielle olhou o rosto satisfeito da mulher à sua frente.

    – Nunca vi ninguém pescar da forma que fez. Como consegue?

    – É simplesmente algo que aprendi – respondeu Xena – aprende-se de tudo quando se está com fome.

    – Passou fome? – perguntou Gabrielle.

    Xena lançou um olhar indagador para a outra mulher.

    – Agora quer conversar? – Xena decapitou mais um peixe e encarou a outra mulher – me conhecer ou algo do tipo, loirinha?

    Gabrielle estreitou os olhos. A mulher queria mudar de assunto. Tinha tocado em algum ponto sensível. Como quando falara de seu primeiro assassinato.

    – Mexi com seus nervos de novo, conquistadora?

    Os olhos de Xena tornaram-se fendas, sua mão cerrou-se fortemente ao redor do cabo da adaga. Gabrielle pôde ver o lampejo da fera assassina passar por um milésimo de segundo nos olhos da outra mulher. Seu estômago esfriou. Seus olhos vasculharam rapidamente o ambiente para ver onde estava a outra adaga.

    Entre uma respiração e outra, o perigo desapareceu.

    – Você é incrivelmente atrevida, Gabrielle. Não importa o que eu faça a você, não tem medo de mim – Xena baixou os olhos novamente para o peixe – me dá nos nervos sim. Mas sabe, loirinha – Xena apontou para ela com a adaga – eu meio que gosto disso em você.

    Gostar?

    – Está enganada – Gabrielle se mexeu, desconfortável – tenho medo de você.

    – Bem. Isso só a torna ainda mais corajosa. Me provoca, mesmo com medo – Xena jogou ervas dentro dos peixes, enrolou-os em folhas e os colocou ao lado da fogueira que acendera – não à toa, saiu de uma pequena aldeia e tornou-se rainha. Como eu.

    – Não sou nada como você – o tom de Gabrielle era defensivo.

    – Me magoa, Gabrielle – Xena fingiu tristeza – e tem razão – a conquistadora pareceu refletir um momento – não é nada como eu.

    Gabrielle viu de novo os sinais de uma tristeza passarem pelo rosto de Xena. Mas sumiram tão rápido que se questionou se os havia imaginado. Logo, o sorriso debochado estava de volta.

    – Esse banho me deixou com uma preguiça das boas. Só quero comer esse peixe e dormir. E amanhã – olhou para Gabrielle – temos uma prisão para invadir.

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