Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    UM ANO DEPOIS

     

    A mulher cavalgava velozmente, os longos cabelos dourados esvoaçavam ao sabor do vento. Ela sorria, feliz com a sensação de liberdade que lhe tomava. Nunca se cansava desses momentos. Aproveitou toda a extensão da estrada, até que o começo do movimento da cidade a obrigou a diminuir a velocidade. Cavalgou lentamente até a entrada do castelo real de Corinto.

    – Alto! – sinalizaram os guardas ao vê-la.

    – Estou aqui a convite da rainha – disse a mulher, estendendo um pergaminho com o selo real.

    O guarda pegou o papel e analisou atentamente. Pareceu satisfeito e o devolveu, batendo continência.

    – Seja bem-vinda, senhora Gabrielle – disse o homem – abram os portões!

    Gabrielle atravessou o portal ladeado pela familiar muralha. Mal tinha passado pelos portões quando um adolescente correu em sua direção.

    – Permita-me levar sua montaria aos estábulos, senhora – disse o rapaz.

    Gabrielle desceu do cavalo e passou as rédeas a ele.

    – Qual seu nome, rapaz?

    – Pérdicas, senhora – disse o menino, baixando os olhos, envergonhado.

    Gabrielle sorriu com a coincidência.

    – Tem o mesmo nome de um amigo meu. Cuide bem de Selena para mim, certo? – disse ela, acariciando a crina do animal.

    – Sim senhora, pode deixar. A conquistadora exige que cuidemos muito bem dos animais, senhora – o menino engoliu, parecendo assustado – fica muito nervosa se fazemos algo errado ou deixamos as coisas sujas – o menino pareceu ficar ainda mais assustado – eu não disse isso senhora, eu não reclamei, quero dizer…

    – Ei, calma! Não se preocupe. Não direi nada. E me chame apenas de Gabrielle, certo?

    Os olhos do menino ficaram grandes como pratos.

    – Gabrielle? A Gabrielle? Das amazonas? Que trouxe a conquistadora de volta?

    Gabrielle se sentiu constrangida.

    – Acho que sim – respondeu.

    – Não se preocupe, senhora. Darei o melhor feno para Selena, senhora. Muito obrigada, senhora. Tchau, senhora.

    O menino saiu fazendo várias reverências e levando a égua para longe. Gabrielle balançou a cabeça e riu do jeito do menino. Entrou no castelo e tomou um susto enorme quando uma pessoa correu em sua direção e se pendurou no seu pescoço.

    – Gabrielle! – exclamou a pessoa, que a soltou e a olhou encantada, com lágrimas nos olhos.

    A mulher demorou um momento para reconhecer a jovem à sua frente. Tinha crescido bastante e agora tinha formas de mulher, mas era Jana, sua pequena princesa amazona.

    – Jana! – Gabrielle suspirou, maravilhada – como está enorme! – olhou a menina de cima a baixo. Ela estava muito bem-vestida. Logo atrás da menina, Gabrielle viu Anteia se aproximar. A velha governanta estava sorrindo.

    – Seja bem-vinda, Gabrielle – disse Anteia – tentei segurar Jana, mas ela não estava aguentando a ansiedade em lhe ver.

    – Anteia – Gabrielle se aproximou da mulher e a abraçou também – fico feliz em vê-la.

    – E nós em vê-la – disse Jana – Gabrielle, sou assistente da Anteia agora. Xena disse que ela está começando a ficar muito velha. Tenho um salário, e…

    Anteia pigarreou, lançando um olhar repreensivo para a jovem.

    – Digo, a rainha, a conquistadora – corrigiu-se Jana – e não exatamente velha, apenas que…

    – Melhor parar de falar, garota – cortou Anteia – não sei como a rainha me manda uma porta como você. Leve Gabrielle aos aposentos dela e não encha os ouvidos da mulher com suas bobagens.

    – Sim senhora – disse Jana, obediente, mas Gabrielle percebeu que ela segurava um sorriso.

    Dirigiram-se aos aposentos de Gabrielle. No caminho, ela viu alguns de seus amigos e todos correram para abraçá-la e cumprimentá-la. Ficou satisfeita em ver que todos eles pareciam felizes, bem cuidados e alimentados. Desejou que um dia eles pudessem ser livres.

    – Qualquer coisa que quiser é só me avisar, Gabrielle – disse Jana, quando entraram no quarto – Xena, digo, a conquistadora, me deu ordens de lhe providenciar tudo que desejar.

    – Desejo que sente aqui comigo e converse, Jana – disse Gabrielle acomodando-se numa das cadeiras no quarto e apontando outra para Jana.

    A menina hesitou alguns segundos, depois sorriu e se sentou. Gabrielle estava feliz, vendo como a menina emanava vitalidade e alegria.

    – Me conte, Jana, o que tem acontecido por aqui?

    – Oh, tudo melhorou muito, Gaby – começou Jana, retomando sem perceber o antigo apelido com facilidade – está até melhor do que era antes daquele homem. Voltamos a ter comida, descanso. Tem bem mais gente agora, até as horas de trabalho diminuíram um pouco.

    – O castelo parece mais cheio mesmo.

    – Está sim – disse a moça – e até Xena, digo, a rainha, está mais calma, sabe?

    – Sério?

    – Sim. Não perde mais a paciência o tanto que perdia antes. Ela às vezes mandava nos flagelar, mas agora só nos manda passar uns dias no calabouço. E acho que nunca mais esfaqueou ninguém – Jana parecia forçar a memória – dizem que ela está amolecendo.

    – Xena? Amolecendo? Eu duvido – respondeu Gabrielle.

    – Eu também duvidava até ver com meus próprios olhos. Sabe, um dia, na corte, um rapaz dos novos tropeçou e derrubou a taça de vinho em cima da roupa dela. Ele desmaiou de medo na mesma hora, mas ela nem fez nada com ele. Só mandou ele passar uma semana limpando o esterco dos estábulos. Me disseram que da outra vez que isso aconteceu ela cortou um dos dedos da pessoa.

    – Parece que houve algum avanço.

    – Mas todos ainda morrem de medo dela – disse Jana – ela tem reputação. E nunca deixa passar nada. Pode não punir como antes, mas sempre pune. Uma vez deu uma surra feia num soldado que roubou uma das joias dela e o deixou amarrado dois dias ao relento. Mas nem o matou.

    – Para os padrões éticos de Xena, isso é quase como se ela tivesse beijado esse rapaz – comentou Gabrielle.

    – Oh, acho que ela não beijou ele – riu Jana, e baixou a voz para um sussurro – dizem por aí que ela está beijando a senhora Ophelia. Mas acho que é mentira. Todos sabem que Ophelia anda às voltas com o lorde Ariston.

    – Você parece andar sabendo de tudo, não é mesmo mocinha? – disse uma voz.

    Gabrielle e Jana olharam na direção da voz e viram a rainha parada na porta do quarto. Jana perdeu toda a cor do rosto e se ajoelhou no chão.

    – Perdão minha senhora, perdão, não pretendia…

    Xena andou até a menina ajoelhada, o rosto sério. Gabrielle observou, preocupada. A máscara de seriedade de Xena se desfez e ela riu.

    – Levante, menina – Jana levantou num pulo – obrigada por me poupar o trabalho de atualizar Gabrielle com as fofocas da corte. Saia daqui.

    A menina fez uma reverência e saiu correndo do quarto. Gabrielle deixou escapar o fôlego que estava prendendo.

    – Não precisava ficar tensa, loirinha – Xena sentou-se na cadeira onde antes estava Jana – não ouviu as novidades? Agora sou uma déspota benevolente. E só para constar, não estou beijando Ophelia, embora tenha tentado. Ela gosta de jantar outras coisas. Confesso que meu ego ficou ferido.

    – Bem, tinha que ver para acreditar – disse Gabrielle – porque essa mudança de estilo?

    – Governa-se melhor equilibrando o amor e o terror – disse Xena – ainda faço o necessário para deixá-los se cagando de medo, mas tempero com uma generosidade aqui, um perdão acolá. Isso os acalma e os controlo melhor.

    – Entendo – disse Gabrielle – é uma estratégia.

    – O que pensava que seria?

    – Não sei. Talvez tivesse crescido um coração em seu peito?

    Xena encarou a mulher e ergueu uma sobrancelha.

    – Senti falta da sua petulância, loirinha – disse Xena – por aqui não tem muitas pessoas que falem assim comigo.

    – Vou tomar como um elogio – disse Gabrielle.

    – É, no mínimo, um alívio no meio de tanta gente apavorada ou lambendo minhas botas. Mas, sinto decepcioná-la. O peito continua vazio.

    Gabrielle achou graça.

    – Não acredito em você, Xena.

    – Está me chamando de mentirosa?

    – Não – continuou Gabrielle – somos quem fingimos ser. E se fingimos ser uma coisa tempo suficiente, nos tornamos essa coisa. Se está fingindo ser menos dura, então está aprendendo a ser menos dura. Está desenvolvendo um coração.

    – Deuses! Da sua filosofia barata eu não senti saudade.

    – Tudo isso é para me dizer que sentiu saudade? – provocou Gabrielle.

    A rainha a encarou, rosnando.

    – Para que a convidei mesmo? Estou me arrependendo.

    – Quer que eu participe da abertura das Festas Dionisíacas contando uma história. Prometeu um bom pagamento. Além do mais, é uma oportunidade para eu me tornar mais conhecida.

    – Ah, é mesmo – a rainha levantou-se – sabe, talvez devesse ter chamado Gastacius novamente.

    – Talvez – Gabrielle respondeu, sorrindo.

    Xena sacudiu a cabeça e saiu do quarto, deixando para trás uma Gabrielle satisfeita consigo mesma.

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