Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    Gabrielle ergueu-se do trono. Contemplou, triste, as mulheres aprisionadas. À frente delas, Piamma a olhava com desprezo. A voz de Ephiny soou alto ao seu lado:

    – Você foram pegas em flagrante tentativa de assassinato contra a rainha. Estão condenadas por alta traição. E segundo nossas leis a sentença para isso é…

    – Espere – Gabrielle ergueu a mão, interrompendo Ephiny.

    – Minha rainha? – Ephiny se aproximou e falou de forma que apenas Gabrielle pudesse ouvir – Gabrielle, se não conseguir fazer, deixe que eu faça. Não pode perdoá-las.

    Gabrielle abriu a boca para falar, mas Ephiny se adiantou.

    – A sentença é a morte. A ser realizada amanhã pela manhã. Levem-nas.

    Gabrielle olhou contrariada para Ephiny. Esta a agarrou pelo braço e a puxou para a tenda real. Assim que adentraram, Gabrielle a contestou:

    – Não posso fazer isso, Ephiny. Tem muitas delas. Não posso matar amazonas. São nossas irmãs.

    Ephiny a abraçou, segurando-a em silêncio por um tempo. Depois, beijou-a na testa.

    – Piamma nunca a aceitou – Ephiny acariciava seus cabelos – a toleramos tempo demais. Conseguiu fazer a cabeça de outras. Se não acabarmos com isso agora, isso só crescerá e se voltará contra nós.

    Gabrielle apertou o corpo da outra mulher e escondeu o rosto em seu colo.

    – O que estou fazendo errado, Ephiny? Não estamos prosperando? Por que elas não estão satisfeitas? Achei que estávamos indo bem – lamentou Gabrielle.

    Ephiny passou uma mecha de cabelo atrás da orelha de Gabrielle.

    – Algumas não conseguem superar o fato de você não ter nascido de um ventre amazona. São loucas com ideias de pureza de sangue e tradição. Mas são minoria. O conselho já reportou. Toda a nação lamenta o que aconteceu e está do seu lado.

    Ephiny levantou o rosto de Gabrielle carinhosamente para olhar em seus olhos.

    – Tem que ser forte, Gaby. Tem que fazer isso.

    Gabrielle sacudiu a cabeça e sentou-se à beira da cama, esfregando a testa. Ephiny sentou-se ao lado dela e a abraçou novamente. Gabrielle recostou-se na mulher e suspirou.

    – O que decidir fazer, estarei ao seu lado – disse Ephiny.

    – Não é o que pareceu lá fora – Gabrielle disse, contrariada.

    – Não podia deixar você ter uma crise de liderança na frente de todas elas.

    Ephiny virou o rosto de Gabrielle e encostou seus lábios nos dela. Por alguns minutos, a rainha conseguiu esquecer a crise que a assolava. Lamentou quando a boca da outra mulher se afastou.

    – Você vai tomar a melhor decisão, como sempre – disse a mulher de cabelos cacheados.

    Gabrielle fechou os olhos e se permitiu relaxar por alguns minutos dentro do abraço de sua esposa.

    – Passarei a noite na tenda de Ártemis – a rainha respirou fundo e finalmente levantou-se – preciso pensar.

    – Estarei aqui se precisar de mim – respondeu Ephiny.

    – Eu sei – sorriu Gabrielle, e saiu. 

     

    ***

     

    O sol já estava alto quando Ephiny entrou na tenda de Ártemis. Gabrielle estava de pé, séria, contemplando o altar cheio de grãos, frutas e pequenas caveiras de animais, que homenageava a deusa. Ephiny tocou em seu ombro e virou-a gentilmente.

    – Está na hora.

    Gabrielle segurou a mão em seu ombro e a apertou.

    – Estou indo.

    – Eu posso brandir a espada, se você quiser. Ninguém questionará.

    – Não – Gabrielle se dirigiu à porta – eu o farei.

    Ao sair da tenda, viu todas as mulheres aprisionadas logo em frente ao palanque do trono. Uma multidão de amazonas observava tudo. Gabrielle passou os olhos pela plateia e viu como olhavam com desprezo para as prisioneiras. Esperavam sangue. Ephiny tinha razão, elas estavam ao seu lado, escandalizadas com a tentativa de assassinato direcionada à rainha.

    Gabrielle parou em frente às prisioneiras. Seu rosto não trazia mais os traços do cansaço e do conflito interno.

    – Podia simplesmente ter demandado o desafio, Piamma. Por que não o fez? – o rosto da rainha era uma máscara de dureza.

    – O desafio só pode ser feito a uma rainha amazona – Piamma a olhou com desgosto – você não é rainha. É uma usurpadora. Não merece ser desafiada por mim.

    – Entendo. É uma covarde.

    A multidão ovacionou Gabrielle.

    – Vocês todas pensam como ela? – Gabrielle olhou as demais mulheres presas.

    As prisioneiras se entreolharam, constrangidas. Gabrielle pôde ver medo, arrependimento e, em algumas, o mesmo ódio que Piamma lhe direcionava. Entristeceu-se ao perceber que nem todas ali realmente acreditavam no dogma da mulher mais velha. Pagariam um preço alto por um lapso de julgamento. Algumas eram jovens demais.

    – Entendo – falou a rainha – tragam-me Piamma, Ukeile e Sminera – a voz era alta e imponente.

    As guardas se adiantaram e levaram para diante de Gabrielle as três mulheres, que a olhavam orgulhosa e desafiadoramente.

    – Dê-me a espada – Gabrielle estendeu a mão.

    Ephiny trouxe-lhe a espada real. Antes de entregar, deu uma última olhada para Gabrielle.

    Posso fazer isso, se você quiser, diziam seus olhos.

    Gabrielle acenou para Ephiny, reassegurando-a que estava bem. A regente colocou a espada em sua mão.

    Gabrielle fechou os dedos ao redor do punho da arma. Não costumava manusear espadas. Sempre se surpreendia como eram pesadas.

    – Pelo crime de alta traição, estão condenadas à morte – falou a rainha em tom alto e limpo.

    A multidão bradou. Em três gestos rápidos, Gabrielle enfiou a espada no coração das três mulheres. Os corpos tombaram e o chão se encharcou de sangue. Ephiny se adiantou e pegou a espada, ao perceber que a mão de Gabrielle tremia.

    A turba passou um tempo gritando. A rainha contemplava as mulheres mortas, em silêncio. Aos poucos o turbilhão de vozes foi amainando. Gabrielle sentiu sua voz retornar.

    – Vocês dizem que não sou amazona por que não nasci aqui – falou, dirigindo-se às demais prisioneiras – mas, eu acredito, e sei que minha nação também acredita, no que a princesa Terreis dizia. Uma amazona dá sua vida pela outra, protege suas irmãs. Uma amazona é capaz de pensar por si mesma, ao mesmo tempo que pensa na sua nação. Vocês não fizeram isso. Podem ter nascido amazonas, mas agora não são mais. Ameaçaram covardemente suas irmãs e se deixaram levar pelo pensamento de outras pessoas.

    As mulheres permaneciam de cabeça baixa, envergonhadas. Algumas faziam preces à Ártemis.

    – Sua sentença é banimento – declarou a rainha.

    Um burburinho correu a multidão. Ephiny a encarou, estupefata. As mulheres presas a olharam como se repentinamente tivesse crescido uma cabeça em seu ombro.

    – As líderes dessa rebelião covarde estão mortas. Quanto a vocês, quaisquer títulos, posses ou relações que tenham com a nação amazona estão rompidos. Se pisarem novamente em nosso território, serão executadas. Farei que todos conheçam seus rostos. Qualquer amazona tem liberdade para cortar suas cabeças caso atrevam-se a pisar em nossas terras novamente.

    As mulheres condenadas encaravam Gabrielle, numa mistura de assombro, tristeza e alívio.

    – Acabou. Voltem às suas atividades. Tirem essas mulheres da minha vista – e dirigiu-se à tenda real.

    Ephiny quis segui-la, mas precisava coordenar o banimento das mulheres.

    – Ouviram a rainha! Vamos! Vocês, preparem a pira para esses corpos. Eu prepararei o pelotão para remover essas traidoras daqui. Vamos, vamos!

    Aos poucos, a multidão se dispersou. Da tenda, Gabrielle ouvia o arrefecer do evento. Ao longe, o crepitar alto de chamas indicava que estavam queimando os corpos das mulheres que ela matara.

    Só esperava que três mortes fossem o suficiente para controlar os ânimos do seu povo.

    Um tempo depois, Ephiny entrou na tenda. Ajoelhou-se diante da cadeira em que Gabrielle estava sentada e segurou a mão da rainha.

    – Foi estúpida, minha rainha.

    Gabrielle não conseguiu segurar uma risada cansada, sempre entretida com os modos diretos de Ephiny.

    – Muito arriscado – continuou a regente – mas acho que as pessoas estão satisfeitas. As que não foram mortas certamente estão. Não me sinto segura em deixá-las vivas, devo confessar.

    – Já houve morte suficiente, Ephiny.

    – Espero que seja realmente o fim disso – disse Ephiny – não quero ter que salvar sua bunda da morte de novo nem tão cedo – Ephiny baixou os olhos – me assustou muito. Achei que ia perdê-la.

    Gabrielle olhou para a mulher a seus pés. Inclinou-se e a beijou, tentando transmitir todo seu amor e paixão naquele gesto. Ephiny a puxou e a apertou contra si, aproximando seus corpos o máximo que conseguiu.

    – Ok – disse Ephiny, meio sem fôlego – eu adoraria continuar isso, mas tem um pelotão de mulheres me esperando para levar as prisioneiras embora.

    – Vou com vocês – disse Gabrielle fazendo menção de se levantar, mas a outra mulher a impediu.

    – Não – disse Ephiny – já fez demais. Fique aqui sendo rainha. Vai demorar alguns dias para tirá-las do nosso território. Eu cuido disso. Descanse um pouco.

    – Tudo bem – disse Gabrielle, sem forças para questionar. Estava realmente cansada.

    Ephiny sorriu, acariciou seu rosto e saiu.

    Gabrielle deitou-se e deixou a exaustão cair sobre ela. A imagem da espada manchada de sangue espreitou seus sonhos.

    0 Comentário

    Digite seus detalhes ou entre com:
    Aviso! Seu comentário ficará invisível para outros convidados e assinantes (exceto para respostas), inclusive para você, após um período de tolerância. Mas se você enviar um endereço de e-mail e ativar o ícone de sino, receberá respostas até que as cancele.
    Nota