Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    – Não tem como matar um deus, Xena – retrucou Gabrielle.

    – Não tenha certeza disso. Além do mais, não tenho exatamente escolha. Não adianta eu retomar meu trono se Ares permanecer vivo.

    Gabrielle balançou a cabeça e respirou fundo, resignada.

    – Irei com você, então – declarou.

    Xena a olhou, surpresa. Eris também.

    – Perdeu o pouco bom senso que tinha, loirinha? – questionou Xena.

    – Primeiro, meu nome é Gabrielle. Segundo, não está indo caçar faisões. Está indo atrás de um deus. Você não está nas melhores condições físicas, Xena. Vai precisar de ajuda. Além do mais, preciso garantir que vai cumprir essa tarefa e tirar esse homem do poder. As pessoas dependem disso.

    Xena resmungou. Odiava admitir, mas Gabrielle estava certa. Demoraria para recuperar seus movimentos normais, se é que conseguiria. Contemplou o rosto determinado da outra mulher.

    – Realmente odeia o estúpido, hein? – comentou.

    A imagem do corpo descartado de uma menina que não tinha mais que doze anos à porta dos quartéis passou pela mente de Gabrielle.

    – Mais que a você – respondeu Gabrielle, firmemente.

    – Adoro as coisas bonitas que me diz – gracejou Xena – bem, se vai comigo, trate de não me atrapalhar.

    – Se vocês duas vão, irei também – disse Eris – me matarão se você fugir, Gabrielle.

    Gabrielle ficou preocupada, pois a escrava tinha razão.

    – A tiraremos daqui Eris. Acharemos um lugar seguro para você. Alguma aldeia ou vila. Mas não pode ir conosco na busca. É muito perigoso – disse Gabrielle.

    – Mas…

    – Por favor, Eris. Temos o suficiente para nos preocupar – continuou a amazona.

    A escrava abriu a boca para protestar, mas Xena pôs um dedo sobre a boca dela.

    – Ei, Eris – disse Xena – a deixaremos num lugar seguro. Trate de manter-se viva até sua homicida preferida voltar ao poder, certo? Vou precisar de você por aqui.

    Eris corou e balançou a cabeça pra cima e pra baixo. Gabrielle olhou Xena com olhos repreensivos, frente a clara manipulação dos sentimentos da jovem. Xena sorriu maldosamente e deu uma piscadinha travessa para a amazona.

    – Certo – disse Xena – como exatamente vamos sair daqui? 

     

    *** 

     

    Era uma noite, quando elas colocaram o plano de fuga em ação. Eris ficou perambulando nos corredores ao redor dos aposentos, atenta aos movimentos do castelo. Assim que um trio de guardas passou, ela entrou no quarto e sinalizou para Xena e Gabrielle. Xena continuou espiando por uma mínima fresta na porta, e assim que os guardas estavam bem na sua frente, ela a escancarou e os atacou, seguida por Gabrielle.

    Xena quebrou os pescoços dos homens em gestos velozes, enquanto Gabrielle impedia que eles dispersassem. Os homens mal tiveram tempo de entender o que lhes tinha roubado a vida.

    – O combinado era você apenas nocauteá-los! – contestou Gabrielle – não matá-los!

    – Tecnicalidades – retrucou Xena – temos os uniformes, vamos sair daqui.

    Puxaram os corpos dos homens para o quarto, tiraram seus uniformes e os vestiram.

    – Se me seguirem e ficarem caladas, escapamos dessa – disse Xena.

    Saíram ao corredor, que ainda estava deserto. Xena tentava guiá-las pela rota mais direta e menos povoada, atenta aos barulhos do castelo e às movimentações das pessoas. Encontraram alguns guardas, mas a maioria não olhou para elas duas vezes. Um ou outro lançou um segundo olhar confuso. Xena apressou o passo, seguida pelas duas mulheres.

    Conseguiram sair do castelo e rumaram em direção aos estábulos. Um dos escravos limpava a entrada, carregando lentamente uma pá de esterco, parecendo exausto.

    Gabrielle percebeu o movimento mortífero de Xena em direção ao escravo. A amazona se adiantou e golpeou o homem na nuca, e ele caiu desacordado. Xena a olhou, contrariada.

    – Estraga prazeres – reclamou Xena.

    Adentraram os estábulos e soltaram três cavalos. Xena montou em um dos animais. As duas mulheres a imitaram. A alta mulher bateu os calcanhares nos flancos do animal e este disparou, no que foi seguido pelos outros dois.

    Esconderam-se atrás de uma alta árvore, observando os portões da muralha até eles estarem pouco vigiados, quando então cavalgaram a toda velocidade em sua direção. Os guardas observaram, confusos, elas se aproximarem. Xena os viu tentando enxergá-las na escuridão. Não pareceram se alarmar até elas estarem bem próximas. Foi quando um deles arregalou os olhos e começou a abrir a boca.

    Xena saltou do cavalo e derrubou o homem no chão antes que ele gritasse. O outro guarda atacou e a guerreira derrubou-o também. Quebrou o pescoço de ambos os homens caídos. Sinalizou para Eris e Gabrielle, que desceram dos cavalos e começaram a abrir os portões.

    Já tinham uma estreita abertura quando ouviram vozes atrás de si.

    – O que está acontecendo aí? – um guarda chamou – porque estão abrindo o portão?

    Quando finalmente abriram espaço suficiente para passar um cavalo, Xena saltou de volta em sua montaria e disparou pelo portão, seguida pelas duas outras mulheres. Um pequeno tumulto começou a se formar atrás delas.

    – É Xena! Ela voltou dos mortos! – gritou alguém.

    Já tinham uma boa dianteira quando a primeira flecha passou voando por cima do ombro de Gabrielle.

    – Não as deixem escapar! – ouviram um grito distante.

    – Você está louco, não pode ser Xena!

    – Não as deixem escapar!

    Mais flechas passaram voando. Xena agarrou uma das setas, que de outra forma teria lhe atravessado o pescoço. As outras duas mulheres desviavam-se como podiam. Os gritos dos guardas se tornavam mais distantes, quando um baque chamou a atenção de Gabrielle.

    Eris caíra do cavalo, uma flecha atravessada no pescoço, gorgolejando sangue.

     

    – Eris! – Gabrielle gritou e fez menção de voltar, mas Xena a impediu, puxando as rédeas do seu cavalo.

    – Ela já está morta! Vamos!

    – Não! – Gabrielle gritou, desesperada.

    – Vamos!

    Xena inclinou o corpo, o cavalo acelerou ao máximo. Gabrielle a acompanhou, deixando escapar um grito de tristeza, e as vozes ficaram para trás.

     

    ***

     

    Cavalgaram por horas ininterruptas. Viram o sol nascer e começar a sumir novamente. Gabrielle sentia todos os músculos do seu corpo doerem. Estavam embrenhadas floresta adentro, já longe de Corinto. Xena ia alguns metros à frente dela. A morena, de repente, puxou as rédeas do cavalo, parou e desmontou. Gabrielle seguiu a deixa.

    Xena sacou a espada e voltou-se com um olhar feroz. Gabrielle arregalou os olhos e colocou a mão no punho da própria espada, pronta para se defender, mas Xena começou a descer a lâmina inúmeras vezes numa árvore próxima.

    – Malditos! – gritava a mulher – Bastardos!

    Lascas voavam da árvore. Xena, parecendo exausta, caiu de joelhos e apoiou a testa na árvore. Gabrielle aproximou-se com cautela da outra mulher, sem tirar a mão do punho da sua arma.

    – Xena? – Gabrielle chamou.

    Xena permaneceu em silêncio. Gabrielle ajoelhou-se ao lado dela. Havia uma dor genuína nas feições da guerreira.

    – Posso ser uma maldita genocida, loirinha – Xena falou num sussurro – mas eu odeio quebrar promessas. Eu disse àquela estúpida putinha que a deixaria em um lugar seguro. E agora ela está morta.

    Gabrielle entendeu.

    – Está me dizendo que gostava dela?

    Xena deu um sorriso debochado e se ergueu.

    – De uma coisa eu sei – falou a mulher mais alta, guardando a espada – ela era a única naquele chiqueiro que tinha algum apreço real por mim.

    – Não foi o que ouvi – contestou Gabrielle – Ophelia parecia gostar de você. Os outros escravos também.

    Xena balançou a cabeça com escárnio.

    – Eles gostavam das porções de comida que eu os dava. E não os julgo. Eu sei o que eles passam. Mas eles não tem apreço por mim. Apreciariam qualquer um que fizesse o mesmo. Ophelia apenas cheira menos mal que os outros. Mas aquela escravinha idiota gostava de mim. Jamais entenderei o porque, mas assim era. Bem, na verdade, acho que não lhe dei muita escolha. Mas já não importa. Está morta.

    Gabrielle baixou a cabeça. Também estava muito triste com a morte de Eris. E estava um pouco surpresa em ver que Xena se importava de alguma forma, apesar da forma peculiar de demonstrar.

    – Também lamento muito – murmurou Gabrielle.

    Xena viu que Gabrielle ainda não tinha tirado a mão do punho da espada.

    – Acha que vou matar você? – perguntou Xena.

    – Não tenho motivos para pensar que não o faria – Gabrielle não via razão para mentir – tem uma facilidade imensa em matar. E é muito mais forte que eu. Mesmo no estado em que está.

    – Então por que veio?

    – Tenho esperança que o fato que salvei sua vida signifique algo – retrucou Gabrielle.

    – Bem, mesmo eu sendo provavelmente a criatura que mais odeia nesta terra, salvou minha pele por causa dos seus amiguinhos. Isso não pode ter sido fácil. A devo por isso. Não a matarei.

    – Estou ajudando-a, Xena, mas não tenho nenhuma razão para confiar em sua palavra – Gabrielle não se deixou convencer.

    – Sei que minha palavra não vale muito pra você, mas o que vai fazer? – a rainha ficou impaciente – ficar acordada todas as noites me vigiando? Se eu quisesse matá-la, já estaria morta.

    Xena puxou seu cavalo em direção a uma árvore e o amarrou. Gabrielle reparou que ela mancava.

    – Tem mais – continuou a morena, com voz cansada – não estou na minha melhor forma. Vou, de fato, precisar de sua ajuda.

    Gabrielle, devagar, soltou o punho da espada, mas seus sentidos permaneciam alertas.

    – Já está escurecendo – disse Xena – Precisamos descansar. Deixemos essas conversas inúteis sobre confiança para amanhã.

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