Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

A conquistadora começou a rodear Gabrielle lentamente. A postura dela não era ruim, embora ainda não fosse perfeita, e Xena podia ver alguns músculos começando a despontar nos braços e abdômen da jovem mulher. Aparentemente, ela vinha se dedicando mais do que Xena esperava.

Atacou com golpe básico descendente que Gabrielle bloqueou com um reflexo rápido. Girou e avançou pela lateral, sendo obstruída com a mesma presteza. Avançou por diversos ângulos, e a mulher segurou todas as bordoadas.

A imperatriz recuou, com um sorriso no rosto.

– Bom. Você pegou mesmo o básico.

Gabrielle não respondeu, apenas mantendo sua postura séria e concentrada, as gotas de suor se formando no seu corpo apesar do frio da noite. Xena começou a girar o próprio bastão.

– Vamos ver como você lida com um pouco mais de… intensidade – despejou a morena.

A morena avançou com velocidade, desferindo golpes em sequência rápida. Gabrielle tomou um susto inicial, mas apurou sua concentração na tentativa de segurá-los. Conseguia sentir a pressão em seus músculos e em sua mente, a rapidez da conquistadora era impressionante. Ainda, assim, com dificuldade, conseguiu segurar os avanços, terminando a sessão ofegante e brilhando de suor quando a soberana recuou mais uma vez.

Não pode deixar de notar que a respiração de Xena parecia ter se alterado muito pouco, e aquilo a fez sentir um frio na espinha.

– Muito bom. Muito bom mesmo, Gabrielle. Agora vamos dificultar mais um grau, preparada?

Não, pensou a loira, mas engoliu em seco e balançou a cabeça para cima e para baixo, tentando controlar a respiração.

A nova avalanche de golpes veio não apenas com o cajado, mas em forma de socos e chutes que Gabrielle conseguiu desviar por muito pouco. Por um minuto, viu apenas borrões, e uma confusão de madeira, braços e pernas, e foi aí que sentiu um impacto poderoso em seu braço, que a obrigou a largar o bastão, depois uma rasteira que a derrubou com um baque no chão de terra.

Sentiu-se tonta e confusa, e o pensamento de levantar-se nem tinha passado por sua cabeça quando sentiu a pressão forte da ponta do cajado em seu peito, prendendo-a ao chão. Piscou os olhos e a imagem de Xena encarando-a de cima parecia uma titanesa. A ponta do bastão deslizou do seu peito até seu pescoço e ela sentiu suas veias pulsarem contra a madeira.

– Se eu fosse um oponente real – a morena falou com voz baixa – esse seria o momento da sua morte.

Gabrielle sentiu aquela onda de pavor ameaçar voltar a dominá-la, mas, mesmo trêmula, olhou a imperatriz nos olhos, buscando uma resposta.

– É o que você quer? – perguntou num fio de voz.

Gabrielle viu os olhos da morena piscarem muito rápido e os punhos dela se cerrarem no bastão. Xena levantou o cajado e atirou-o longe, depois estendeu a mão para Gabrielle.

– Não – respondeu – não é o que quero.

Gabrielle, hesitante, pegou a mão que era oferecida, e a imperatriz a puxou, ajudando a levantar-se. Percebeu que a mulher não soltou sua mão imediatamente, trocando com ela um olhar dolorido. Gabrielle sustentou aquele olhar, confusa, até a soberana largar sua mão.

– Muito bem, Gabrielle – a voz da mulher voltou a adquirir um tom formal – o segredo é continuar o treinamento – se virou para os demais soldados – certo, bando de insetos. Formem pares e comecem a se estapear. Gabrielle, você também.

O treinamento prosseguiu, desta vez no combate mano a mano. Xena observava a todos, corrigia posturas e golpes. Gabrielle conseguiu perceber porque todos aqueles soldados ouviam a sua monarca com verdadeira devoção. Xena, antes de ser imperatriz, era uma guerreira. Essa era sua verdadeira essência.

Uma espécie de brilho de vida ocorria nos olhos azuis da mulher enquanto ela transmitia seus conhecimentos. Aqueles soldados eram pessoas comuns e recebiam atenção direta da pessoa mais poderosa do império. Lembrou do que Xena tinha falado há muito tempo. Que não importava o tanto de intrigas que a corte fizesse, se as armas lhe eram leais, ninguém se voltaria contra ela.

Após uma sessão de intenso treinamento, Xena dispensou a todos. Gabrielle observou enquanto os soldados começavam a se dispersar, ainda trocando algumas palavras e risadas entre si. Suas pernas estavam exaustas, mas ela manteve-se firme, segurando a respiração para não chamar atenção. Quando todos se afastaram o suficiente, começou a caminhar devagar para onde Xena estava, fingindo amarrar a faixa das botas para disfarçar seu real propósito de ficar para trás.

Xena estava de costas, recolhendo alguns equipamentos que haviam sido deixados de lado. Gabrielle se aproximou lentamente, até parar a poucos passos da mulher. Xena pareceu perceber a presença dela sem nem precisar olhar.

– Você ficou para trás, Gabrielle – a voz de Xena quebrou o silêncio, sem emoção aparente, enquanto continuava a organizar as armas.

– E você parou de tentar me evitar – respondeu Gabrielle. Seu coração ribombava, e não era apenas pela intensidade do treinamento. Seu pensamento construía hipóteses sobre muitas coisas que ela vinha tentando não pensar, mas que estavam levando o melhor dela. O medo, agora difuso, que ainda sentia de Xena, não estava sendo o suficiente para conter os impulsos frenéticos que estavam nascendo em seu coração.

Xena terminou de guardar as armas e finalmente se voltou para olhar a loira. Seu olhar parecia exausto, de uma exaustão emocional, não física.

– Achei que você ficaria melhor se eu me afastasse – a morena falou com voz falhada, como se lutasse para que aquelas palavras saíssem. O que sentira diante das guerras mais sangrentas não era nada perante o que sentia naquele momento. Era incompreensível para sua mente como uma mulher tão menor que ela, e claramente muito mais frágil, era capaz de despertar um sentimento tão próximo ao terror.

– Você provavelmente está certa – Gabrielle olhou para baixo um momento – mas eu quero entender. Eu quero entender o que aconteceu.

Enchendo-se de coragem, Gabrielle deu mais um passo à frente. Chegava cada vez mais perto de Xena, que sentia cada passo adiante dela como a aproximação de sua ruína.

– Quem eu vi naquela noite? – perguntou Gabrielle, com a voz baixa e suave.

Xena deu um sorriso cínico.

– Eu gostaria de dizer que é uma parte dormente de mim. Uma parte antiga de mim – disse a guerreira, ainda com as palavras batalhando para se formarem – mas eu estaria mentindo. É uma parte viva e real de mim. Que já foi predominante. É a parte de mim que me permitiu ter o mundo inteiro sob meu domínio. E que dorme muito perto do meu coração.

Gabrielle assentiu, parecendo compreender, mas Xena duvidava.

– Você parecia estar… muito machucada naquele dia. Por ter matado Callisto. Além da bebida…

– Está procurando desculpas para mim, Gabrielle? Eu respondo por meus atos. Pelos melhores e pelos piores.

– Certo, então. Você me assustou muito. Eu tinha certeza que ia morrer naquele momento.

– Quase aconteceu – a voz de Xena era fria como gelo.

– Por que não aconteceu?

Xena sentiu uma leve náusea, e como se um bolo inteiro estivesse preso em sua garganta, sensação que se agravou quando Gabrielle chegou ainda mais perto.

A última vez que a vira tão de perto fora quando ela chorara de pavor diante de si. A lembrança a atravessou com uma fisgada de dor quase física. Sentiu que lágrimas queriam vir a seus próprios olhos, mas concentrou-se para que elas não caíssem. Não podia. Não podia…

Sentiu quase como se um choque atravessasse seu corpo quando a mão de Gabrielle segurou a sua.

– Por que, Xena? – a loira insistiu.

– Eu.. eu não… – não conseguiu evitar que suas palavras saíssem como balbucios desvairados – eu simplesmente não pude… não pude ferí-la. Não quero ferir você – sua voz quebrou, seus olhos estavam fixos na mão que Gabrielle segurava.

– Eu acredito em você – sussurrou Gabrielle.

– Gabrielle… – continuou Xena – me… perdoe – Xena inspirou profundamente, como se as palavras custassem sua alma – por favor… me… perdoe – dessa vez uma lágrima solitária teimou em escorrer dos olhos azuis que ainda estavam fixos nos dedos entrelaçados.

Gabrielle ergueu a outra mão e pousou na face de Xena, limpando a lágrima com o polegar. Virou o rosto da imperatriz lentamente, convidando-a a olhá-la. Xena deixou-se guiar, mesmo sabendo que encontraria seu fim. E encontrou. Encontrou lindos olhos verdes marejados, parcamente iluminados pela luz fraca da lua.

– Eu perdoo – Gabrielle sussurrou.

A soberana agora era incapaz de deixar de olhar aqueles olhos. Percebeu que a própria mão, ainda presa na de Gabrielle, tremia.

– Por que? – perguntou Xena, como se não entendesse – por que me perdoa?

Gabrielle sorriu, seus olhos ainda marejados, e deu de ombros.

– Você me perguntou uma vez se eu gostava de coisas perigosas – a loira respondeu – acho que a resposta é sim – a voz da loira quase sumiu nas últimas palavras, quando não conseguiu mais resistir ao impulso que agora doía em seu coração e em seu corpo.

Segurou o rosto da soberana com as duas mãos, enquanto se erguia na ponta dos pés e fazia sumir o espaço entre seus lábios e os da imperatriz.

Xena, por um momento, não acreditou no que ocorria, mas o corpo de Gabrielle encostado ao seu logo à devolveu a realidade. Seus braços entrelaçaram com força a cintura da mulher, apertando-a contra si como quem tenta conter a última faísca de calor em uma noite de inverno.

Nota