Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Dias depois

 

Em frente ao castelo, Gabrielle abraçou a filha, que chorava aos cântaros em seu colo. As amas e o pequeno cortejo aguardavam em silêncio.

– Amor – Gabrielle tentou dizer mais uma vez – já está na hora de ir. Eles estão esperando.

– Eu não vou! – a menina esperneou – o papai foi embora e agora você está me mandando embora! Por que está todo mundo me abandonado?

Gabrielle sentiu seu coração se despedaçar. Toda sua resistência estava por um fio.

– Nunca vou te abandonar, meu amor. A mamãe vai estar aqui quando você voltar para suas férias.

– Você está mentindo!

– Meu amor, alguma vez eu menti para você?

– Eu não quero ir!

Jana, uma das amas, se aproximou.

– Gabrielle, temos que partir – Jana pegou a cintura de Rhea – Rhea, meu amor, vamos.

– Não! – A menina gritou com todas as forças, se agarrando à mãe – não!

Sentindo-se a criatura mais perversa que já caminhou sobre a terra, Gabrielle desenrolou os braços de Rhea de seu corpo e a entregou à Jana.

– Mamãe, não! – a menina lançou à mãe um olhar traído e desconsolado, as lágrimas desciam pelo pequeno rosto, grandes e gordas.

– Até mais meu amor – disse Gabrielle – vou te escrever tá?

A menina se virou, com raiva, e escondeu o rosto no colo de Jana, que olhou com compaixão para Gabrielle.

– Não se preocupe, Gaby – a ama falou – ela vai entender. Sempre é assim.

– Que Deméter te ouça, Jana – Gabrielle estava com a voz embargada.

– Adeus, Gabrielle – disse Jana, finalmente entrando na carruagem. O pequeno cortejo começou a ir embora.

Gabrielle sentiu a própria visão escurecer e buscou um local onde se encostar, seus olhos fixos no chão terroso. Viu duas botas sujas de terra aparecerem. Ergueu os olhos e deu de cara um um bastante imundo Joxer que a olhava preocupado.

– Está bem, Gaby? – perguntou o homem.

– Estou, Jox – ela respirou e enxugou as lágrimas – Rhea acabou de partir.

– Oh – Joxer fez uma expressão penalizada – é verdade. Eu sinto muito – fez menção de estender a mão para pôr no ombro de Gabrielle, mas recuou – estou sujo como um porco. Estava mantendo os estábulos. Mas, hum – o homem pigarreou – se você quiser, an, depois do seu expediente ir lá em casa – ele baixou os olhos, meio corado – conversar e tal, se distrair, bem… enfim, mas se não quiser, não tem problema, claro, é só um convite e bem, não precisa ir e…

Gabrielle não conseguiu não sorrir vendo o homem se embananar com as palavras.

– Não vou prometer, Jox – Gabrielle segurou uma das mãos do homem – mas agradeço a gentileza. Se eu não estiver tão triste a ponto de lhe dar trabalho, tentarei ir, tá bom?

– Que é isso Gabrielle, você nunca dará trabalho – o homem olhava para a mão que Gabrielle segurava, parecendo encantado – quero dizer, se estiver triste pode ir, feliz também, mas quero dizer…

– Tenho que abrir a biblioteca – Gabrielle soltou a mão dele – Já está tarde. Obrigada pelo convite, Joxer – ao sair, deu um beijinho na bochecha do homem. Joxer ficou olhando ela entrar no castelo, com um sorriso bobo no rosto e passando a mão onde a mulher o tinha beijado.

 

***

 

A imperatriz atravessava o pedaço de terra que levava aos quartéis. Os transeuntes, ao vê-la, curvavam-se para cumprimentá-la, ao que ela respondia com um aceno de cabeça. Ninguém fez muito caso. Estavam acostumados a ver a soberana da Grécia caminhando a noite sozinha pelos arredores de seu castelo, especialmente perto dos aposentos militares.

Ao vê-la se aproximando, os soldados ficaram em pé e se perfilaram, batendo continências. Alguns a cumprimentavam com apertos de mão. Estes eram os que estavam com ela desde os tempos de conquista. Dirigiu-se à área de treinamento, onde alguns soldados, os mais jovens, já estavam lá aguardando-a.

– Minha senhora – Theodorus se aproximou, estendendo a mão para Xena, que a apertou – devemos começar?

– Chame primeiro Glafira – resmungou Xena, com um sorriso esquivo no rosto – quero pelo menos um pouco de emoção antes de começar a maltratar os novinhos.

O homem riu e acenou para uma mulher quieta e afastada dos demais. A mulher se aproximou, séria e olhou para Xena.

– Armas? – perguntou – ou mano a mano?

– A segunda opção – Xena respondeu.

O pequeno bando de jovens soldados e soldadas formou um círculo ao redor das duas mulheres, todos com os olhos brilhando de excitação.

Xena fechou os olhos por alguns segundos para sentir o próprio corpo. Quando os abriu, não era a imperatriz da Grécia que encarava Glafira. Era Xena, a Conquistadora, Destruidora de nações. Glafira percebeu a mudança e devolveu um sorriso igualmente largo.

Glafira foi a primeira a atacar e o embate começou.

 

***

 

– O que é esse barulho? – perguntou Gabrielle à Joxer, enquanto caminhavam de braços dados pelos arredores do castelo – algum tipo de festa?

– Ah, é provavelmente Xena treinando com os soldados.

– Hum – respondeu Gabrielle, que já estava deixando de se surpreender com esse tipo de informação.

– Você quer ver? Eles não se importam.

– Acho que sim.

Ainda não tinha andado por aquele trecho das terras. Viu ao longe uma fileira de casas, enfeitadas com arcos e flechas, espadas e diversas armas. Um grande pedaço cercado, com várias estruturas de madeira. Parecia uma versão reduzida dos Jogos Olímpicos.

Viu no espaço cercado um círculo de pessoas, de onde vinham as vozes vibrantes que tinha ouvido ao longe. Se aproximaram e cumprimentaram as pessoas, que abriram espaço para ela e Joxer.

Levou à mão a boca e arregalou os olhos quando a primeira coisa que viu foi Xena levando um soco no rosto e um filete de sangue escorrer pela boca da imperatriz. A moça que tinha dado o soco se preparava para um novo golpe, quando a soberana agarrou o braço dela, deu-lhe uma rasteira e a derrubou no chão.

A moça levantou-se com um pulo e tentou dar uma rasteira na rainha, mas esta pulou e assim que a mulher se levantou levou um golpe na base do pescoço que a fez desmaiar imediatamente.

A roda de soldados gritou em euforia, inclusive Joxer. Theodorus se aproximou de Glafira e começou a lhe dar tapinhas no rosto. A mulher aos poucos recobrou os sentidos e se levantou, grogue. Cambaleou até Xena.

– Um dia vai acontecer, minha senhora – disse Glafira, a voz meio pastosa – um dia serei eu a nocauteá-la – estendeu a mão, que Xena apertou com um sorriso.

– Aposto que sim – respondeu a imperatriz. Voltou-se e olhou para os soldados ao redor – insetos, formem duas filas, naquela direção. Eu e o velho Theodorus vamos bater um pouco em vocês.

Os jovens foram imediatamente, sobrando apenas Gabrielle e Joxer.

– Ora, ora – Xena pareceu finalmente reparar na existência deles – estão querendo se juntar aos regimentos?

– Não, não – respondeu Gabrielle – estávamos passeando e ouvi as vozes. Fiquei curiosa e vim ver o que era.

– Não costuma passar esse tempo com sua menina?

Gabrielle baixou os olhos.

– Ela partiu hoje.

– Oh, entendi. Bem, se lhe distrai ver dois velhos chutando a bunda de alguns soldados, fique à vontade.

A imperatriz foi até os soldados e começou a lhes gritar ordens e ensiná-los técnicas de luta, junto com Theodorus. Joxer apontou para um banco a uma certa distância e foram lá sentar-se, enquanto observavam os exercícios.

– Já quis ser soldado, Joxer? – perguntou Gabrielle.

– Sim. Eu tentei. Não passei nem na primeira fase dos testes – o homem riu – eu adoraria ser um grande guerreiro. Chegava a fantasiar com isso. Mas não é para mim.

– Os Destinos raramente nos levam onde queremos, não é?

– Raramente.

– Eu queria ser uma barda viajante quando era jovem – contou Gabrielle – casei, achei que seria eternamente esposa e mãe. Agora sou guardiã de histórias que os outros contam.

– Mas agora acho que pode contar suas próprias histórias.

– É, talvez. Bem, agora tenho tinta e pergaminhos de sobra – refletiu – me faltam as Musas. Não sei sobre o que poderia escrever. Não vivi muita coisa de interessante. Quem quer ler histórias sobre ordenhas de ovelhas?

– Bem, acho que as aventuras vão encontrar você aqui em Corinto.

– Você acha?

– Acho. Mas é aquilo… cuidado com o que deseja. Quem sabe – Joxer faz uma cara pensativa – possa começar simplesmente escrevendo sobre tudo que você viveu até chegar até aqui. Sei que foram acontecimentos trágicos, mas talvez escrevendo possa dar um sentido a tudo.

Gabrielle ficou pensativa. Depois distraiu-se observando o treino. Comentaram as habilidades da imperatriz que, como prometido, chutou a bunda de todos os soldados, mas estes, por algum motivo, pareciam felizes com aquilo. Quando o treino acabou, percebeu a imperatriz vindo na direção deles.

Xena se perguntava se era sua imaginação ou se realmente algo estava acontecendo, mas tinha a impressão que a loirinha (era como estava chamando Gabrielle em sua mente) tinha uma tendência a aparecer onde ela estava com mais frequência do que qualquer pessoa naquele castelo. Perguntava-se se a mulher estava ativamente a buscando ou se simplesmente o acaso produzia aqueles encontros.

Ou se não era tudo coisa de sua cabeça.

Lembrou do corpo ensanguentado de Alti na masmorra. A xamã parecia ter visto que de alguma forma aquela mulher iria destruí-la. Xena conhecia o suficiente de previsões e profecias para saber que às vezes eram literais, às vezes eram metafóricas. Mas sempre significativas. O que significava que aquela mulher iria ter algum papel importante em sua vida.

Ela tentava imaginar como uma mulher tão insignificante poderia ter alguma relevância no desenrolar do seu destino. Mas estava disposta a descobrir.

Nota