Faz pouco tempo que amanheceu, porém Xena já estava acordada, como de costume antes do desjejum ela veste seu uniforme de ginástica e dá algumas voltas correndo ao redor da base aérea de Cronos. Localizada a 30 KM do continente de Osea, essa é uma das bases de fronteira, mais especializada em missões de patrulha, reconhecimento e escolta.

Durante a segunda volta, ela percebe alguns caças se aproximando, escoltando um avião de passageiros, porém nota algo atípico, um emblema não muito visto por aquela àrea, o brasão da força aérea de Sapin.

Xena para por um instante enquanto observa a aterrissagem “Interessante, deve estar só no cheiro do combustível, se veio direto de lá…” A nave vai cada vez mais se aproximando da pista, e aterriza cuidadosamente. Ela então dá de ombros e volta a correr, porém com aquela imagem em sua mente: “O que será que está ocorrendo, tá certo que aumentou a frequência dos treinamentos, mas isso já está com cara de ser para valer…”.

Ao término da terceira volta, ela se dirige para os alojamentos, e já próxima da entrada da base, escuta o sargento gritar “Atenção! Oficial presente!” Xena percebe um batalhão se aproximando na corrida matinal no sentido oposto e corresponde a continência, entretanto também nota alguns tropeções, alguns mais jovens esbarrando nos colegas, vidrados enquanto admiram a base e os aviões estacionados.

A base aérea de Cronos costumava ter em torno de 60 caças de combate, alguns aviões de patrulha aérea (AWACS), cargueiros e de transporte de pessoas, porém recentemente o efetivo triplicou, sndo necessário realizar obras de expansão do complexo, e até mesmo empregando o uso dos porta aviões Kestrel III e Harling II para poder acomodar o excedente de aeronaves, principalmente com a chegada de tropas dos paises da aliança, logo está se tornando comun presenciar conversas em outros idiomas como o sapinês, ustiano, gebetiano, useano entre outros.

Ah… esses jovens, viu… pelo visto vão dar trabalho para os sargentos…” Ela então se dirige para seu quarto, prepara-se para o desjejum e segue em direção para o refeitório.

No meio do caminho, enquanto passava pelo corredor principal, ela ouve alguém falando num sotaque carregado, parece animado para o que veio fazer. Ao olhar para o lado percebe um senhor cuja altura daria em seus ombros, cabelo ruivo, puxando para um dourado sob o reflexo da luz do sol, com um porte imponente, porém contrastando com a fala tranquila.

Por um certo instante ela permanece admirando a cena, enquanto a comandante da base permanece escutando com as mãos para trás. Uma mulher um pouco mais jovem, trajado com o terno de coronel, azul escuro, cheio de plaquetas de medalhas, envolvendo seu quepe com o braço esquerdo. 

A coronel Val parece ser bem atenciosa como anfitriã, apesar de contrastar com o comportamento de costume, quieta, pensativa, extremamente ouvinte. “Muito bom saber que o senhor teve uma boa viagem, e recepção… Os esquadrões, como são? Ah olhá só quem está aqui, Coronel, quero te apresentar para alguém…” Val se vira na direção da ouvinte e acena, indicando sua aproximação.

Xena ergue discretamente uma sobrancelha e caminha em direção aos dois, apesar do burburinho de fundo de falas, é possível ouvir os estalos agudos de suas botas de aviadora ecoando pelo corredor, apesar de tranquilo, pelo ouvir, parecia de marcha. Estando a poucos passos deles, ela bate uma continência enquanto ambos correspondem, coisas essas comuns em protocolos militares.

Descansar, major.” Val fala quase que num sussurro e vira-se para o seu visitante. “Coronel, gostaria de apresentar a Major Xena, ela é uma das nossas especialistas em aviação de caça.” O visitante levanta a mão para a cumprimentar, sendo correspondido formalmente. “Prazer em ‘conocê-la’, Coronel Javier da SAF”.

Xena ergue um pequeno sorriso: “Igualmente Coronel, seja bem vindo a Cronos.” Javier, por um instante permanece olhando para ela, e nota em seu braço o brasão do esquadrão que ela pertence, em forma de escudo azul, adornado por ramos verdes, ao centro, um arco prateado envolvendo a bandeira de Osea, ao topo a palavra em dourado, contornada por preto “Espada”.

“Interessante o nome do seu esquadrão, no meu país tivemos um com o mesmo nome…” Xena por um instante acompanha o olhar dele “Sim, foram muito corajosos, resolvemos homenageá-los”. Ela ouve um suspiro partindo de Javier, que deixa aparecer um sorriso de orgulho.

Muito bem, acho que está na hora de comermos, por aqui Coronel.” Val se dirige para Javier que olha simpaticamente, ele assente com a cabeça e se despedem da Major, que por um instante permanece os acompanhando com o olhar, enquanto eles se dirigem para o refeitório enquanto conversam sobre a história de cypher, o mercenário da guerra belka.

Assim, ela dá meia volta e se dirige ao refeitório, que a essa hora já está quase cheio, o falatório um pouco alto evidencia a empolgação da base com o que está por vir. Xena já com a bandeja abastecida em mãos, anda um pouco entre as enormes e longas mesas à procura de um lugar.

Entre os corpo efetivo da base, há alguns integrantes das tropas de Sapin, que instintivamente ao verem a patente de Xena, se levantam em posição de sentido e prestam continência, o que chama a atenção dos demais. Xena por um instante para e acena com a cabeça “Descansem rapazes, a comida está boa?”

Os pilotos se entreolham, ainda confusos “Si señora! Muchas gracias, se quieres podemos ceder un lugar para a señora…” Xena ergue um sorriso de canto de boca “Não é necessário, fiquem a vontade, eu vou me acomodar para lá, perto do meu esquadrão. Desejo bom apetite para vocês.” Assim os jovens retomam seus assentos e voltam a comer enquanto conversam com os demais.

Poucos metros adiante, ela encontra seu esquadrão, guardando um banco para ela. Ao todo são 4 integrantes. Seus colegas são:

James, nome de guerra “Clutz” (que significa trapalhão), Espada 4, mais novo integrante do esquadrão, um jovem de cabelos e olhos castanho escuro, pálido e magricelo, ama contar, e inventar histórias como ninguém, porém é muito atencioso e prestativo.

Anthony, nome de guerra ”Slipper” (escorregadio, ou saliente), mais velho que James, Espada 3, cabelos pretos acompanhados de um grosso porém aparado bigode e cavanhaque, porte mais forte, porém com uma postura mais solta, vive alisando seus bigodes, e tem um jeito mais solto para falar, nunca dá ponto sem nó, e costuma ser mais surdino.

Melosa, codinome “Amazona” , Espada 2, possui cabelos longos e escuros, escondidos sob um coque bem apertado, olhar analítico, a menos tolerante à perguntas óbvias de toda a base, sempre prefere ouvir do que falar, agir, é também conhecida por traçar o perfil psicológico com quem fala em alguns minutos.

James “ClutzAnthony “SlipperMalosa “AmazonaCoronel Val “Raínha”

Então lá estava eu, completando o circuito quando de repente surgiu o Trovão 2 na minha frente, no meio da minha trajetória…” James com as mãos demonstra a manobra enquanto Anthony permanece olhando com os braços apoiados na mesa e Melosa de braços cruzados levanta uma sobrancelha. Os três interrompem a história quando percebem Xena se aproximando, olham para ela “Ai está nossa cavaleira! Como foi o sono? Deixamos esse lugar reservado, faz de conta que a casa é sua”. James diz enquanto Melosa retira seu capacete da cadeira ao seu lado.

Até que foi tranquila, valeu por guardarem o lugar pra mim, e aí, tão falando sobre o quê?” Xena comenta curiosa enquanto termina de se ajeitar. “Ah o Clutz está contando sobre uma treta que rolou durante os testes de manobra ontem…” Anthony apoia o queixo numa das mãos apoiadas na mesa. “Isso mesmo! Então eu ouvi no rádio – Eaí lerdão, não sabe que retardatário tem de abrir passagem para o lider não? – Então eu ultrapassei ele fazendo um parafuso e respondi: Se fosser lider, estaria como Trovão 1 hahaha! Aliás, relâmpago 1 falando, câmbio e desligo!” Os três se olham, e soltam uma gargalhada.

Xena permanece olhando por um instante, um pouco séria, porém solta uma breve risada. “Que aventura, parece ter sido bem divertido. Até que você se saiu bem na resposta, mas foi bem perigoso o que rolou…” O olhar dela fica mais sério. “Ele poderia ter causado um stall [desestabilização aerodinâmica] e você teria ido para o chão… Reportou para o SkyEye isso?” James olha um pouco confuso para ela “Eu… não, não reportei, mas ele não estava de maldade, estava?”

Vou descobrir…” Xena olha para seu café da manhã pensativa, mas começa a comer, e os demais a acompanham. O silêncio permanece até que terminam. “Prontos? Daqui a pouco começa o briefing no salão, vamos?” Os três afirmam com a cabeça e juntos se levantam para ir ao salão principal. No caminho para sairem do refeitório, Xena percebe o Esquadrão Trovão olhando para James, cochichando e rindo com deboche. James percebe e olha para eles com um ar de censura e reprovação, porém logo a seguir nota Xena parada a sua frente, de braços cruzados. “Então não foi por mal, hum?” Xena levanta uma sobrancelha.

James aparenta vergonha, momentaneamente, porém preocupado “Acho que não, deixa eles, é coisa de novato acho…” Melosa para ao lado de Xena, e acompanha ela no olhar preocupado com James, porém ele começa a ficar tenso “Não foi nada, até rendeu umas risadas, ninguém se machucou, ta tudo bem, ta?”. Xena olha para Melosa que está desconfiada, então responde para James “Tudo bem, Melosa e eu ficaremos por aqui mais um pouco, vocês podem ir na frente que daqui a pouco te alcançamos.” Ela aponta para as bandejas esquecidas em cima da mesa.

Anthony e James acompanham o olhar para onde ela apontou e não conseguem segurar um sorriso sem graça pela distração. “Senhores… Não se esqueceram de algo?” Xena permanece os olhando. “Nossa… é mesmo, não vai se repetir, vamos Anthony, esquecemos disso, bora!” Melosa permanece acompanhando os deboches dos “Trovões”, como eles se intitulam, enquanto Xena monitora os dois a terminar de organizar as bandejas em cima do balcão de limpeza e se dirigem para o salão.

Assim que os perdem de vista, Xena olha para Melosa, que ergue sutilmente o rosto na direção do esquadrão zombeteiro, logo a seguir ela se vira para eles, descruza os braços, veste a boina de aviadora e começa a se aproximar deles, ao seu lado Melosa com um olhar penetrante.

A zombaria imediatamente se encerra, o líder do esquadrão, Trovão 1 se levanta, e seus colegas acompanham o movimento, imóveis. Se trata do mais novo esquadrão integrado à base, formado pelos melhores da academia de aviação, porém no histórico há relatos de brigas e discussões, em destaque o Trovão 2, por ja ter puxado cadeia por insubordinação.

Ambas permanecem em postura de comando. Então Xena anda para o outro lado da mesa, permanecendo em silêncio os encarando, enquanto aguardam todos os demais saírem do refeitório. Poucos minutos depois somente restavam eles naquele saguão imenso. Os guardas militares olham para a Major, e ela com um aceno de cabeça os indicam para aguardarem do lado de fora. Os oficiais da cozinha os acompanham. Silêncio absoluto.

Muito bem… Primeiro gostaria de me apresentar, sou a Major Xena. Espero que vocês tenham gostado das suas acomodações, confortáveis e tranquilas. Gostaram do café da manhã?”. Os quatro respondem “Sim senhora Major!”.

Vejo que vocês aprenderam bem a ter bons modos, ou…” Xena olha para Melosa, que cruza os braços e aguça seu olhar ameaçador. “… ou isso é só medo mesmo?”. Os quatro permanecem sem reação, porém o Trovão 2 toma a iniciativa, “Senhora, respeitamos a experiência, temos orgulho da oportunidade de integrar essa base.”

Interessante, muito interessante, mas, eu não dei permissão para vocês falarem…” O Trovão 2 vira-se para ela, ainda com uma posição de sentido “Mas a senhora não perguntou?” Melosa olha para ele arregalando um pouco os olhos e retorna a olhar para Xena, que o encara. “SILÊNCIO!” A voz dela ecoa pelo saguão vazio, fazendo os quatro darem um pequeno pulo de susto.

Xena vira seu rosto para o líder: “Trovão 1

Trovão 1: “Sim senhora Major!”

Xena: “O que diz o treinamento?

Trovão 1: “O líder de esquadrão responde perante os seus oficiais superiores sobre a conduta tomada de seus liderados, sendo ele o responsável pelas decisões que ele toma.

Xena: “Me explique por quê o Trovão 2 não pediu permissão para falar.

Trovão 1: “Senhora Major, o Trovão 2 achou que não era uma pergunta retórica, em nome do meu esquadrão peço desculpas pelo ruído de comunicação de minha parte.

Xena: “Você entende que esses ‘ruídos’ de comunicação podem matar seus colegas em um combate?

Trovão 1: “Sim senhora Major! Trovão 2, peça desculpas para a Senhora Major!”.

Trovão 2: “Sim senhor, Senhora Major, peço desculpas, não vai se repetir.

Xena: “Muito melhor, desculpas aceitas… Agora vamos para o que interessa.

Os integrantes do esquadrão deixam transparecer o temor, porém permanecem estáticos como pedra.

Xena: “Não sei se vocês me conhecem, mas não é tão difícil de descobrirem, assim como o senhor, Trovão 1, tem a responsabilidade sob seus liderados, eu tenho sob os meus. Engraçado o senhor não ter citado esse termo que consta no regulamento interno do Ar…

Xena: “Os senhores entendem que estamos aqui por uma razão, não é uma colônia de férias, portanto, amadureçam rápido, pois eu não sou tão facilmente enganada…

Xena: “Mais um incidente como esse, de ontem…” Os quatro começam a demonstrar um tremor.

Xena: “… repito, para ser o mais clara possível, mais um incidente como esse, e EU garantirei que vocês irão para a corte marcial. Vocês acham que me conhecem, ou ao meu esquadrão, então prestem muita atenção, não tentem nos sabotar. Mexeu com um do meu esquadrão, mexeu comigo.”

Trovão 1: “Senhora Major, permissão para falar?”

Xena: “Concedida.

Trovão 1: “O Trovão 2 identificou que o Espada 2 poderia estar com problemas na aeronave, pois estava mais lento que nós, então permiti que ele se aproximasse para avaliar se havia alguma avaria, porém ele fez a piada para descontrair o Espada 2, ele parecia mais tenso que o de costume…

Xena: “Foi comunicado ao Espada 2 sob a aproximação?

Trovão 1: “Não, senhora, não deu tem…

Xena: “Então quer dizer que você autorizou seu liderado a se aproximar de uma outra nave sem comunicar a aproximação? Isso pode dar fogo amigo, né Melosa?

Melosa: “Sim senhora Major, em situação de combate real, toda aproximação não comunicada pode ser interpretada como um ato de agressão contra o esquadrão, e caso a nave desconhecida não arremeta, tem autorização para o abate, novas tentativas de comunicação são facultativas…

Xena: “Ouçam bem, senhores, é bom se comportarem, já sabem o que o regulamento diz sobre insubordinação…

Trovão 1: “Senhora?”

Xena: “ATENÇÃO!!!” Novamente sua voz ecoa ao ponto dos corpos deles tremerem, e em um ato reflexo se levantam em posição de sentido.

Xena: “ESQUERDA VOLVER!!!” Os quatro se viram para sua esquerda, permanecendo petrificados.

Xena: “EM FORMAÇÃO!!!” O esquadrão marcha até os quatro formarem uma fila indiana.

Xena: “DIREITA VOLVER!!!” Os quatro se viram e ficam de frente para Xena e Melosa.

Xena: “APRESENTAR ARMAS!!!” Ao mesmo tempo todos eles batem continência para a Major e a Capitã.

Xena: “Senhores, vocês saúdam o posto, não a pessoa. DISPENSADOS!!!” Os quatro levam um novo susto, porém se viram e instintivamente marcham até a saída.

As duas permanecem olhando para eles até saírem. “Mandou bem, Major, causou uma baita de uma boa impressão. Obrigada pela ajuda com o James…” Melosa comenta enquanto desarma a tensão.

Imagina, me revolta ver esse tipo de conduta, me desculpe os sustos… Mas você viu que eles mereciam essa dura, né” Xena responde ainda consternada. “Céus, eles podiam ter matado o James nesse susto… vou ficar com um olho neles…”.

Sim, mas acho que eles aprenderam a lição, eles não vão fazer isso de novo…” Melosa comenta sussurrando um pouco. “Certifique-se de que eles não façam mais isso com ninguém, ainda mais com o que está por vir… não podemos arriscar baixas num momento como esse…” Xena olha para ela séria.

Então, vai ser mais do que um treinamento esse briefing?” Melosa demonstra um espanto com a breve revelação. “Não tenho certeza… só desconfio”. A major sussurra, enquanto saem do refeitório.

Senhora Major?” O guarda militar chama Xena. “Olá sargento! Tudo bem contigo?” A major retribui a continência e o cumprimenta com um sorriso.

Acompanhamos a sua instrução de agora, agradecemos pela intervenção, se desejar, vamos informar nossos superiores para garantirem que eles se comportem.” Melosa e Xena esboçam um alívio “Claro, agradeço pelo empenho, se possível, depois do ocorrido de ontem, gostaria de estar a par da evolução deles, e, não precisam reportar o ocorrido de ontem, isso já foi resolvido, tudo bem?” Xena segura suas mãos nas costas e levanta uma sobrancelha.

Sim senhora Major, compreendido, pediremos que uma cópia seja enviada para a senhora. Desejamos boa instrução de missão!” Eles então prestam continência e retornam para o interior do refeitório, enquanto elas se dirigem para o salão de instruções.