Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    – Xena, pare de aterrorizar o garoto.

    – Me deixe em paz, Ophelia.

    – Ele já atirou dez flechas em você.

    – E peguei todas, não foi?

    – O rapaz está a ponto de se borrar.

    Xena caminhou até o soldado. Era jovem demais. Um dos novos recrutas. O rapaz pareceu encolher ante a sombra da rainha. Xena lhe lançou seu melhor olhar ameaçador e divertiu-se com a palidez do rapaz.

    – Está com medo, soldado?

    – S-sim, senhora conquistadora.

    Xena ouviu Ophelia suspirar exasperada atrás dela.

    – Seu nome? – perguntou a rainha.

    – Alec, senhora.

    – Alec. Sabe atirar duas flechas ao mesmo tempo?

    – Senhora? – o rapaz perguntou, hesitante.

    – Tem problemas de audição, merdinha? Perguntei – a rainha se aproximou até quase colar o nariz no do soldado – se sabe atirar duas flechas ao mesmo tempo.

    – Sim, senhora – respondeu o rapaz. Xena sentiu o cheiro do suor nervoso que saia dele.

    – Muito bem – a rainha afastou-se novamente – mande duas pra mim, por favor.

    Ophelia ia abrir a boca, mas Anteia acenou para ela no outro extremo do campo de arquearia, chamando-a. A regente virou-se e saiu, enfurecida.

    – Isso mesmo, megera – resmungou Xena – vá reinar e me deixe em paz. Vamos lá, garoto. Dê-me seu melhor.

    O soldado colocou duas flechas no arco e puxou a corda, tentando controlar os tremores. Soltou as duas setas, que Xena pegou no ar. O rapaz deu um grito excitado.

    – Minha senhora! – exclamou Alec, assombrado – impressionante!

    – Mesmo uma guerreira velha ainda tem seus truques – disse a rainha – quem sabe, se for um bom garoto, o ensino?

    O soldado curvou-se pressuroso.

    – Seria a maior honra da minha vida, sua majestade!

    Xena riu. Era engraçado como passavam do terror à admiração em segundos.

    – Certo, rapaz, mande mais duas.

    O jovem disparou, dessa vez, confiante. Xena pegou as flechas novamente. Seguiram assim até o sol começar a se pôr. Xena finalmente liberou o soldado, que provavelmente passaria os próximos dias espalhando para todos os recrutas histórias sobre as lendárias habilidades da rainha.

    Xena caminhou satisfeita de volta para o castelo, sabendo que consolidara ainda mais a lealdade da parte mais jovem do seu exército. Não podia esquecer-se novamente de dar a devida atenção a eles. Ophelia pensava que ela estava apenas se distraindo, mas, na verdade, estava sendo rainha. A parte do prazer em estar fisicamente ativa, mantendo suas habilidades de combate, era um bônus. Além do mais, cansar seu corpo o máximo que podia parecia ser a única coisa que a fazia parar de pensar por alguns minutos no fato que Gabrielle ainda não pisara os pés em Corinto.

    Ia fazer o que, duas semanas que a deixara com as amazonas? Era tempo suficiente para bastante confraternização e para viajar até Corinto. A única resposta que lhe ocorria é que a mulher provavelmente estava aproveitando seus sentimentos para torturá-la.

    O que era mais que merecido, pensou a rainha.

    Quando entrou no castelo, Jana a esperava.

    – Seu banho está preparado, senhora.

    – Está dizendo que cheiro mal, garota?

    Jana arregalou os olhos, muda.

    – Estou brincando – disse a rainha – estou suada como uma porca. Some daqui, menina.

    Jana virou-se e saiu. Anteia apareceu.

    – Minha senhora. Tem visita.

    Xena resmungou, cansada.

    – Receba seja lá que presente estúpido e inútil o nobre idiota trouxe, mande meus agradecimentos, e aceite seja lá qual for o convite para seja lá qual festa for.

    – Minha senhora? – a mulher ficou confusa – não, é a senhora Gabrielle.

    Xena sentiu as mãos adormecerem.

    – Gabrielle? Quando ela chegou? – Xena trotou até a governanta.

    – Chamei a senhora Ophelia para recebê-la lá no campo de arquearia – explicou a mulher, nervosa.

    – E por que diabos Ophelia não me chamou imediatamente?! – a rainha gritou, furiosa.

    – Não sei, senhora.

    – Achei que não queria ser interrompida em seu treinamento, Xena – soou a voz de Ophelia. A regente trazia um olhar maldoso.

    – Estou considerando seriamente esfolá-la viva e deixá-la para os abutres – grunhiu a rainha.

    – Sempre tão encantadora, majestade – sorriu a ruiva – ela está na cozinha, contando histórias para os escravos. Devo…

    – Xena?

    A rainha virou-se em direção à voz. Era Gabrielle que caminhava em sua direção. Xena sentiu-se paralisada. A barda andou até ela, e assim que se aproximou, farejou o ar.

    – Não vou abraçá-la. Está fedida, Xena – disse Gabrielle.

    Xena apertou os dentes ao ver a regente segurar o riso com toda a dignidade que era capaz. A mulher não perdia suas maneiras, não importava o quão inusitada fosse a situação. Xena sentiu sua voz começar a voltar.

    – Eu estava… indo agora… – pigarreou – tomar banho.

    – Gabrielle – falou a regente – por que não espera em seus aposentos enquanto a rainha se coloca apresentável? Os mantemos limpos e reservados para você, como ordenou sua majestade.

    Xena imaginou-se por um momento amarrando Ophelia a um cavalo e arrastando-a pelo campo de arquearia.

    – Acho que farei isso – respondeu a barda – a vejo em breve, Xena?

    – Sim – respondeu a rainha – Anteia – dirigiu-se à governanta que observava, estarrecida, a peculiar interação – mande levarem um jantar aos aposentos de Gabrielle em meia hora. Para duas pessoas. Ou melhor, três. Alguém por aqui tem um bom apetite.

    Gabrielle sorriu para Xena. Ophelia olhou de uma para a outra, encantada.

    – Pois bem, Gabrielle. A acompanho aos seus aposentos – disse a regente.

    Xena observou as duas mulheres se afastarem, e quando elas sumiram, disparou até seu próprio dormitório. 

     

    ***

     

    Gabrielle contemplava o farto jantar enquanto esperava, e quase saltou da cadeira quando ouviu as batidas na porta. Abriu a porta e a rainha entrou. A barda jogou-se em seus braços.

    – Oh, Xena! – Gabrielle suspirou – quis fazer isso logo que a vi, mas imaginei que devia manter a compostura diante das pessoas.

    – Achei que era por que eu fedia a carniça – disse a rainha, apertando a mulher em seus braços.

    – Não fedia – disse Gabrielle.

    – Ah, então foi só um ataque gratuito mesmo.

    A loira sorriu, e Xena ainda não acreditava que estava vendo aqueles olhos, aquele sorriso. Tentou não perguntar, porque não queria soar como uma louca, mas não resistiu:

    – Por que demorou tanto? – o tom queixoso de sua voz era nítido.

    – Vim o mais rápido que pude – disse Gabrielle – mas precisava passar um tempo com as mulheres, e peguei alguns trabalhos pelo caminho. Mas o que é isso? – perguntou, reparando numa pequena bolsa que a rainha trazia na mão.

    – Algo que quero mostrar pra você. Mas só depois do jantar.

    – Sério que vai me matar de curiosidade assim?

    – Não é nada de mais. Pode esperar. Vamos comer? Estou faminta.

    As mulheres sentaram-se à mesa.

    – Gabrielle, se passou a tarde esperando, saiba que a culpa é daquela bruxa ruiva. Não me avisou que estava aqui.

    – Ela me disse que você foi muito enfática sobre não ser interrompida.

    – Nenhuma das ordens estúpidas que dou nesse maldito lixão de pedra vale para você.

    – Bem, agora que sei, a interromperei mais vezes.

    – Por favor, o faça – disse a rainha – além do mais, eu não dei ordem nenhuma. A bastardinha estava simplesmente me fazendo de idiota.

    – Como assim?

    – Então, as mulheres realmente aceitaram seu perdão a mim e meu juramento? – Xena mudou rapidamente de assunto, pois não queria falar que Ophelia sabia de seus sentimentos, da ansiedade que sentia todo dia esperando Gabrielle, e que a regente a fizera esperar de propósito só para torturar Xena um pouco mais.

    Gabrielle estreitou os olhos, percebendo a rápida mudança de assunto, mas decidiu não forçar.

    – Sim – comentou a barda – ainda passamos muitos dias conversando e pensando sobre tudo. Mas, no final, elas entenderam.

    – O que acha que elas fariam se soubessem que fez todo aquele discurso bonito porque quer entrar nas minhas calças?

    Gabrielle inclinou-se sobre a mesa. Olhou a rainha, muito séria.

    – Xena – disse a barda – você está de vestido.

    A rainha sorriu. Distraíram-se comendo, e quando estavam satisfeitas, Xena colocou a bolsa sobre a mesa.

    – Já posso ver o que é? – perguntou Gabrielle.

    – Sim – disse Xena. Sentiu-se amedrontada.

    A barda abriu a bolsa. Era uma série de pergaminhos. Abriu um, curiosa. Seus olhos se arregalaram e seu queixo caiu. Leu todos os outros depois olhou para Xena, estupefata.

    – Sei que isso não é nada, Gabrielle – Xena falou, exasperada – e só os aprovarei se você quiser. Não quero ofendê-la – a rainha já se arrependia, ao ver a expressão da barda – não sei o que estou fazendo.

    – Xena – Gabrielle estendeu a mão e pegou a da rainha – será que um dia olhará para mim e parará de ver o passado?

    A rainha ficou em silêncio.

    – Nunca poderá compensar o que aconteceu – disse Gabrielle. A rainha a encarou, ferida – e justamente por isso, tem que parar de tentar.

    A barda depositou um beijo suave na mão da monarca.

    – Não olho pra você e vejo a conquistadora – continuou Gabrielle – vejo apenas Xena.

    – Gabrielle, não…

    – Xena, me ouça. Olha pra mim e vê simplesmente um passado a consertar? Por que eu não quero ser isso. Eu sou Gabrielle, barda, viajante. Quando faz algo por mim, quero que seja por que me vê, quem eu sou, não para aliviar sua consciência. Não quero viver me perguntando se me agrada por que sente vontade ou por que acha que me deve algo. Não me deve nada, Xena.

    Xena abriu a boca para falar, mas foi novamente interrompida.

    – Não me deve nada, Xena. Escute. A única coisa que quero de você é que fique comigo. Será que não entende? Eu só quero ficar com você, apenas isso.

    – Gabrielle, eu… – Xena ouviu o tom embargado de sua voz – eu vejo quem você é. Não tenho como negar que o passado me aflige. Mas eu vejo tudo que é. Creio que terei de parar de tentar entender porque quer ficar comigo e apenas aceitar que você de fato quer.

    – Eu quero. Eu realmente quero, Xena. Acredite.

    Xena levantou-se, puxou a mulher e a beijou. Pela primeira vez, permitiu-se mergulhar inteiramente no sentimento que a mulher lhe oferecia e foi como voar livre por toda a extensão da terra.

    Quando seus lábios se descolaram, Gabrielle falou:

    – Dito tudo isso, vou aceitar o decreto que protege as amazonas e suas descendentes, assim como o que entrega meus pergaminhos sobre as amazonas à biblioteca de Corinto, e que fará cópias e enviará para as outras bibliotecas do reino. Os demais, só jogue na lareira. Combinado?

    – Combinado – disse Xena – e o que faremos o resto da noite?

    Gabrielle sorriu e a beijou, baixando uma alça do vestido da rainha. 

     

    *** 

     

    – Mais uma, Gabrielle, mais uma! – gritaram as crianças.

    Gabrielle riu.

    – Eu realmente gostaria, mas está na minha hora.

    Um grande “oooooohhhh” de decepção ecoou na pequena multidão infantil. Gabrielle ajoelhou-se e todos correram para abraçá-la, e a barda viu-se sufocada por uma montanha de corpinhos.

    – Não a matem, pivetes – a voz da rainha ecoou no galpão.

    As crianças largaram Gabrielle e se puseram de pé, retas e sérias. A loira se levantou e mandou um olhar lancinante para a conquistadora, que lutava para conter o riso.

    – Não deveriam estar trabalhando? – continuou a rainha – sumam daqui. Preciso dar uma palavra com Gabrielle.

    As crianças correram para fora do galpão. Xena aproximou-se de Gabrielle.

    – Está estragando meus escravos, Gabrielle.

    – São crianças – Gabrielle cruzou os braços e levantou uma sobrancelha.

    – Bem, não sou eu que faço as regras.

    – Na verdade, Xena, é você sim.

    A rainha revirou os olhos.

    – Ok, sou eu. Mas você sabe…

    – Eu sei que acabar com a escravidão não é uma coisa simples. Mas ao menos pensa nisso?

    – Então, está indo embora?

    Gabrielle riu ante a descarada mudança de assunto.

    – Sim. Tenho que trabalhar.

    – Não tem, realmente.

    – Certo. Eu quero trabalhar.

    Xena olhava para todos os lados, menos para a barda.

    – Eu poderia fazê-la barda oficial da corte. Arrumar convites, fazer seu nome.

    – Xena, eu não quero – Gabrielle mordeu os lábios – eu pertenço à estrada. Eu quero, e eu sempre quis, viajar, ver o mundo. Ainda há tanta coisa para ver. Tantas histórias pra descobrir e contar. Eu preciso ir.

    – As pessoas gostaram da sua presença aqui esses dias.

    – Eu também gostei. E voltarei em breve.

    – Quão breve?

    – Não sei, Xena.

    Xena sentou-se numa das camas do galpão, e começou a esfregar a testa. Gabrielle sentou-se ao seu lado, segurou a outra mão da mulher e apoiou a cabeça em seu ombro.

    – Você tem que me levar com você – Xena murmurou.

    Gabrielle piscou.

    – Quer viajar comigo? Eu gostaria muito. Mas como ficam as coisas aqui?

    Xena virou o rosto para Gabrielle.

    – Eu não quero viajar com você, eu quero ir com você.

    Gabrielle arregalou os olhos.

    – Xena, não está falando sério.

    – Estou.

    – Não, não está – Gabrielle se irritou e ficou de pé – e é uma brincadeira sem graça.

    Xena não se levantou. Olhou para a outra mulher, angustiada.

    – Não irei, se não quiser – a rainha continuou – e estarei sempre esperando você, não importa quanto tempo demore. Mas, Gabrielle, me disse uma vez que queria que eu pudesse ser feliz. E eu sei que isso significa ir com você.

    – Xena – Gabrielle sacudiu a cabeça e passou as mãos pelos cabelos – não pode tomar uma decisão dessa assim – a barda aproximou-se e abraçou a rainha, beijando o topo de sua cabeça – e não é só sobre você e eu, e o que queremos. As pessoas precisam de você.

    Xena fechou os olhos e deixou a cabeça descansar no colo de Gabrielle.

    – Não quer que eu vá, Gabrielle?

    Gabrielle sentou-se novamente ao lado da rainha e acariciou seu rosto.

    – Eu consigo imaginar uma história fantástica, onde eu e você viajamos juntas pelo mundo inteiro nos metendo em todo tipo de problema. Eu amo essa história. Mas não é o mundo em que vivemos.

    Xena levantou-se, atormentada, e começou a dar voltas no mesmo lugar.

    – Está certa, Gabrielle. Como sempre. Tenho que pensar nos malditos escravinhos, no povo. Tenho que viver o resto da minha vida miserável nesse ninho de ratos asquerosos, aguentando a lambeção de botas desses almofadinhas, e esperando, esperando que talvez, apenas talvez, você apareça. É isso. Essa é minha porcaria de vida. Foi o que construí pra mim.

    A rainha sentia uma necessidade urgente de socar alguma coisa. Respirou fundo para se acalmar e baixou os ombros, derrotada. Olhou para Gabrielle. Sorriu, triste.

    – Até o dia em que voltar, Gabrielle. Espero que traga boas histórias para mim.

    Gabrielle levantou-se, correu até a mulher e a abraçou com força. Xena devolveu o abraço, tentando gravar na memória todos os detalhes que podia.

    A barda ergueu os olhos para ela.

    – Venha comigo, Xena.

    A rainha achou que seus ouvidos pregavam peças.

    – Eu e você ficaremos de olho em Ophelia – continuou a barda – ela é uma mulher inteligente. Sabe do que eu e você somos capazes. Não vai querer nos contrariar.

    Gabrielle descansou o rosto no colo da rainha, sorrindo.

    – Eu estava pensando em viajar até Chin, o que acha? – Gabrielle enrolou os cabelos da rainha nos dedos – parece um lugar tão diferente.

    Xena fechou os olhos e apertou a mulher em seus braços com todas as forças. Uma lágrima caiu do seu olho direito.

    – Chin é uma terra incrível – murmurou Xena.

     

    ***

     

    – Senhora Ophelia, recado para a senhora – disse o mensageiro.

    A regente recebeu o pergaminho. Cuspiu o vinho que bebia ao ler o conteúdo. 

     

    Ophelia.

    Fui com Gabrielle e não voltarei.

    Te entrego meu trono.

    Faça sua mágica para a coisa ser o menos chamativa possível, certo?

    Pedi que me deixasse ir com ela, e ela permitiu. Não entendo porque diabos ela me escolheu, mas desisti de entender. Ela me escolheu, e eu não sou idiota.

    Ou talvez seja, completamente.

    Proteja as amazonas e os pergaminhos de Gabrielle em Corinto, ou arrancarei seu estômago e comerei no café da manhã. Cuide dos escravinhos, dos camponeses e mantenha aqueles abutres da corte numa coleira curta. Ensine os diabinhos que parir como se cuida do povo. Se precisar de alguém que corte cabeças por você, é só mandar recado. Eu e Gabrielle estamos observando de perto.

    Xena de Anfípolis. 

     

    Ophelia passou alguns minutos encarando as linhas. Depois desmanchou-se numa crise de riso.

     

    FIM

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