Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Gabrielle acordou se sentindo bem pela primeira vez em muito tempo. Nem mesmo a constatação de que já era tarde e Vidalus provavelmente lhe daria uma bronca novamente afastou sua sensação de paz. Levantou-se, banhou-se e colocou suas roupas de trabalho.

No momento que saiu de seus aposentos e entrou na biblioteca, quase deixou cair as chaves quando viu a imperatriz em pessoa a aguardando sentada no balcão.

– Olá – a morena cumprimentou.

– Bom dia  – Gabrielle sentiu um frio na barriga. Seus atrasos teriam se tornando irritantes ao ponto de Xena interferir pessoalmente? Pela primeira vez, sentiu um medo real de perder seu emprego – minha senhora, me perdoe o meu atraso. Não sei o que houve, mas…

– Nah – Xena fez um gesto displicente com a mão – todo mundo já se acostumou com o novo horário da biblioteca – a imperatriz apontou para a bandeja com comida que estava ao lado do balcão – vai comer?

– Sim senhora – Gabrielle sentiu o estômago rugir de fome, mas tentou manter a postura – mas antes, posso ajudá-la com algo?

– Ah, sim – Xena finalmente desceu do balcão – quero que junte tudo que tem sobre Mnemosine. A deusa, você sabe. Histórias, templos. Magias. Essas coisas. Tudo. Pode fazer isso?

– Certamente – respondeu Gabrielle, sentindo-se curiosa. Xena nunca tinha entrado ali pedindo nada nem remotamente parecido com aquilo – para quando precisa?

– Agora é muito cedo?

Gabrielle riu.

– Bem, eu posso tornar isso a prioridade do meu dia. Prometo que agilizarei ao máximo.

– Confio em você – Xena deu um pequeno peteleco no nariz de Gabrielle que arregalou os olhos com o gesto completamente inusitado – quando acabar, leve tudo até o salão real. Sabe onde fica?

– Se.. sei – respondeu Gabrielle, ainda completamente chocada.

– Ótimo. Bem, vou lhe deixar com seus afazeres. Até logo.

– Até.

Gabrielle ainda demorou alguns segundos para se recuperar depois que a imperatriz deixou a biblioteca. Sacudiu a cabeça e começou a comer apressadamente para começar logo seu trabalho.

 

***

 

No salão iluminado pelas tochas, Xena mantinha seu habitual lugar à mesa de conselheiros. Enquanto discutiam estratégias sobre os deslocamentos do exército ao longo das fronteiras, a porta se abriu. Todos os olhares se voltaram para a figura hesitante de Gabrielle, parada à entrada. Ela sustentava vários rolos de pergaminhos apertados contra o peito, e seu rosto corado indicava que não esperava que a sala estivesse tão cheia.

Xena arqueou uma sobrancelha, enquanto Gabrielle deu um pequeno passo à frente, tentando manter a compostura.

– Peço desculpas pela interrupção, minha senhora… – começou Gabrielle, fazendo uma leve reverência – trago os pergaminhos sobre o assunto que me pediu.

Xena sorriu, apreciando a escolha de Gabrielle de não revelar os detalhes do seu pedido.

A imperatriz sinalizou aos conselheiros para saírem. Quando todos se levantaram para deixar o salão, Xena gesticulou para Theodorus que ficasse, e quando apenas os três permaneceram, ela indicou um lugar para Gabrielle sentar-se à mesa. Gabrielle hesitou, mas obedeceu, depositando os pergaminhos na enorme mesa e lançando um olhar intrigado para o general ao seu lado.

Xena ficou em silêncio por um momento, as mãos cruzadas à frente do rosto. Depois pousou as mãos espalmadas sobre a mesa e tamborilou com os dedos, mas seu rosto permanecia sério.

– Theodorus – começou Xena – estou pensando se não devemos ouvir Gabrielle para embasar nossa decisão. Afinal, ela foi a vítima do crime.

Gabrielle engoliu em seco, tentando decifrar o que a imperatriz esperava dela, enquanto Theodorus observava a cena com uma expressão séria. Ele não pôde evitar franzir o cenho: Xena não costumava envolver forasteiros – especialmente alguém como Gabrielle, de posição comum – em assuntos tão delicados.

– Tem certeza que isso é sábio, senhora? Será que a senhora Gabrielle não gostaria de simplesmente… deixar isso pra trás?

– Isso… tem a ver com Callisto? – Gabrielle arriscou, os olhos se estreitando levemente.

– Sim, Gabrielle.

Gabrielle sentiu como se algo perfurasse seu coração, sua paz anterior se dissolvendo completamente. Empalideceu e engoliu em seco, mas respirou fundo e se recompôs, lutando para manter a compostura.

– O que houve com ela?

– Gabrielle, eu vou lhe contar coisas, que se você contar a alguma outra alma viva, eu cortarei sua garganta sem pensar duas vezes. Você entende?

Gabrielle tremeu ante o olhar gélido da imperatriz. Pela primeira vez, viu um vislumbre da Xena, Destruidora de Nações, cujas histórias aterrorizavam todos a quem eram narradas. Encarou os olhos azuis e neles viu uma frieza que jamais encontrara no olhar daquela mulher.

– Eu entendo – respondeu, num fio de voz – e eu quero sim, saber o que houve com Callisto – lançou um olhar quase desafiante à imperatriz.

Xena sorriu, um sorriso com um toque de malevolência ao ver a insolência nos olhos da mulher. Ela era realmente corajosa, ao ponto da imprudência, e a imperatriz não conseguia evitar de achar esse traço de personalidade da loirinha fascinante.

– A pena jurídica formal para Callisto é execução – continuou Xena, as palavras pareciam sair a contragosto – mas há um problema com isso – Xena passou a mão pelos cabelos, ao mesmo tempo que se recostava na cadeira e deixava escapar um sorriso conformado – o problema que eu não sou capaz de mandar executá-la.

Gabrielle franziu o cenho.

– Não sei se entendi, minha senhora. Por que não pode executá-la?

– Por que me tornei uma velha idiota sentimental, é por isso – Xena riu perante os olhos completamente confusos de Theodorus, que observava a cena sem acreditar no que via – e não quero matar aquela maldita. Nem posso deixá-la presa para sempre, pois ela tem o peculiar hábito de eventualmente aleijar guardas.

Gabrielle engoliu em seco e olhou para baixo.

– Entendo. Você tem algum tipo de relação com ela.

– Oh, eu tenho algum tipo de relação com ela. Eu matei toda a família dela. Mãe, pai, irmãos, todos. Em um incêndio, ainda por cima. E destruí sua vila. Completamente. Ela viu tudo. Ela cresceu fixada na ideia de se vingar de mim. E tentou. E quase conseguiu. Brincamos de “gato” e “rato” um bom tempo. Depois de um tempo se tornou claro que ela não queria realmente me matar. Que eu era uma espécie de obsessão doente na alma destroçada dela. Eu usei isso a meu favor, e decidi que era melhor ela estar sob meu controle. Lhe prometi que ela estaria sempre ao meu lado se nossos exércitos se unissem. E que governaríamos a Grécia juntas. E isso funcionou por um tempo. Eu mantinha a maluquice dela em xeque e ainda aproveitava as habilidades fenomenais de combate dela a meu favor. Ela fez para mim muitos trabalhos sujos que ninguém mais faria – Xena riu amargamente – ela é um ser com zero escrúpulos. Muito útil. Eu pareço uma hestiana perto dela. E eu sou a única que consegue dar algum centro à mente desorganizada dela. Mas isso acabou naquela maldita noite que acabou lhe envolvendo.

Gabrielle sentiu-se tonta com todas aquelas informações. Não sabia o que pensar. Imaginou ter visto um leve tremor na mão de Xena.

– Eu a criei. Ela é minha responsabilidade – disse Xena – e não consigo matá-la. Meu amigo Theodorus ali – Xena apontou para o general que apenas observava em silêncio – sugeriu que apagássemos a personalidade de Callisto com uma poção de Mnemosine. Para eu não precisar matá-la. Mas, por algum motivo, todas as opções me parecem terríveis. Qual a sua opinião Gabrielle?

Gabrielle fechou os olhos e balançou a cabeça, um sorriso amargo em seus lábios.

– Me parece que eu sou o problema, Xena.

Xena ergueu uma sobrancelha e lançou um olhar confuso para Theodorus, que deu de ombros.

– Que Hades está falando, mulher? – questionou a soberana.

– Simples – continou a loira, dessa vez com voz firme – me mande embora. Eu e minha filha. Para algum lugar distante. Se for algo que te importa, nos mande com dinheiro suficiente para iniciarmos uma vida nova. Assim pode simplesmente perdoá-la e tê-la ao seu lado novamente. Aliás, Xena, acho que me chamou aqui para isso. Você quer minha permissão para perdoá-la.

Xena quase não conseguiu evitar que seu queixo caísse. O general olhava para a loira como se os cabelos dela tivessem se transformado em cobras. A imperatriz sentiu uma raiva súbita da mulher. Pela primeira vez, sentiu vontade de castigá-la pelo atrevimento. Seu punho cerrou.

A maldita loirinha estava absolutamente correta.

Gabrielle continuou:

– Não vou dizer nada que faça você se sentir melhor por suas escolhas. Essas são suas opções. Você é a soberana, e você faz o que bem entender. Mas se você precisava de alguém que te dissesse essa terceira saída, bem, está dito.

Xena se ergueu de repente e se afastou da mesa, dando passos pesados. Respirou fundo várias vezes.

– Então essa é a saída fácil – a imperatriz sussurrou, seu tom cheio de um ódio mal contido – apenas mandar você embora e perdoar Callisto.

Theodorus pareceu finalmente recuperar a voz.

– Com sua licença, minha senhora – o homem mantia a voz num tom calmo e cauteloso – não creio que seja prudente simplesmente perdoar Callisto. Primeiro, porque segundo me contam, a senhora Gabrielle é uma excelente funcionária e seria uma pena perdê-la. Segundo, não creio que o ato de Callisto tenha sido algo que só ocorreria uma vez. Ela saiu do seu controle, minha senhora. Não é mais possível sustentar alguém como Callisto ao seu lado. Ela é por demais imprevisível. Essa situação traz consequências muito indesejáveis a sua posição de poder Xena, que já não é tão estável – Xena se virou bruscamente, encarando o general, que engoliu em seco, mas continuou – ela é uma fragilidade sua e precisa ser neutralizada. De uma forma ou de outra. Se o que você precisa, senhora, é de alguém que lhe fale verdades duras, também estou aqui para isso. E, senhora… – Theodorus se ergueu e encarou Xena com firmeza – se você não fizer, farei contra sua vontade. Mas não deixarei seu governo cair por essa imprudência! – o homem terminou sua fala num tom elevado.

Nota