Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

– Mas e quanto a você? – Gabrielle tentou retomar a conversa – como uma princesa amazona passa os seus dias?

– Nem de longe tão empolgante quanto você possa imaginar – a mulher falou – quando não tem ninguém tentando nos matar, nossos dias são muito banais. Fazemos tudo de forma coletiva, comunitária. Caça, pesca, agricultura, manutenção da aldeia, patrulhas… Como princesa, meus principais deveres são militares e burocráticos, mas compartilho do dia-a-dia da tribo quase sempre.

Estavam se aproximando da área de treinamento dos quartéis. Conseguiam ver a iluminação de tochas e um pequeno grupo de soldados, que Gabrielle já conhecia, se juntando perto da luz.

– É com eles que você treina?

– Sim. Embora hoje não seja dia de treino. Supostamente – Gabrielle riu – hoje seria meu dia de folga.

– Ah não… porque você não me disse? Nunca teria te colocado para trabalhar se soubesse.

– Não se preocupe. Sinceramente, achei a sessão de trabalho hoje muito prazerosa. A companhia certa pode realmente mudar como a pessoa sente uma tarefa.

Terreis entrelaçou os dedos nos de Gabrielle e os apertou suavemente, como resposta ao lisonjeio.

Ao se aproximarem mais dos quartéis, Gabrielle notou uma figura alta e imponente, de armadura escura e postura firme, envolvida no treinamento dos soldados. Seu coração saltou ao reconhecer Xena. A imperatriz parecia engajada em uma luta demonstrativa, trocando golpes com habilidade que fazia até os mais experientes pararem para observar. Gabrielle hesitou em seus passos.

Terreis percebeu a breve hesitação e inclinou-se para Gabrielle.

– Se você quiser, podemos ir para outro lugar – sugeriu Terreis, mantendo o tom leve.

Gabrielle respirou fundo, apertando levemente o braço de Terreis antes de sorrir.

– Não, está tudo bem – respondeu Gabrielle, com uma confiança que queria sentir de verdade – vamos ver o treinamento.

Assim, continuaram caminhando até onde Xena e os soldados treinavam, e logo Xena notou sua aproximação. Seu olhar caiu sobre as duas, e seus olhos se estreitaram. Gabrielle viu as faíscas de tensão surgirem, ainda que bem ocultas, e conhecia o suficiente de Xena para entender que aquele encontro a estava perturbando.

Ao ver Terreis ao lado de Gabrielle, Xena fechou o semblante por um instante, mas logo o disfarçou, mantendo uma expressão fria. Ela cumprimentou a princesa amazona com um aceno contido.

– Terreis – disse Xena, com formalidade impecável, mas a intensidade de seu olhar era um contraste claro ao tom controlado – fico surpresa em ver você por aqui, e mais ainda acompanhada de Gabrielle.

Terreis sorriu, despreocupada, sem notar a tensão que pairava ao redor.

– Fui entregar os pergaminhos e aproveitei para rever Gabrielle. Não podia deixar de passar um tempo com ela.

As palavras diretas de Terreis provocaram algo no rosto de Xena, uma rigidez no maxilar que Gabrielle notou imediatamente. Disfarçando com um sorriso que não chegou aos olhos, Xena deu um passo adiante, seu olhar caindo com intensidade sobre a amazona.

– Bem, Terreis – Xena começou, em um tom casual que escondia um desafio contido – nada mais adequado que uma amazona em um campo de guerra – Xena girou a espada e lançou-a para trás de si, e a lâmina se fincou no chão – o que acha de nos divertirmos com um pequeno combate… na esportiva?

Gabrielle sentiu seu estômago afundar e olhou para Terreis apreensiva, mas encontrou no rosto da amazona uma expressão risonha e animada. Para a princesa, enfrentar Xena era uma oportunidade única, e ela não notava o tom cortante que Xena disfarçava com um sorriso.

– Vai ser uma honra, Xena – disse Terreis.

Gabrielle tentou buscar os olhos de Xena, fazer um pedido silencioso para parar com aquilo, mas a morena parecia estar simplesmente ignorando sua presença ali.

A princesa amazona avançou e girou os braços num breve aquecimento. Depois postou-se em uma postura firme de combate. Gabrielle surpreendeu-se com o olhar intenso e calculista que surgiu no rosto sempre caloroso da princesa amazona.

O embate começou, e Xena atacava com uma precisão letal, mas controlada, forçando Terreis a recuar e a se defender com toda a habilidade de uma amazona. Terreis, rápida e estratégica, conseguiu acertar alguns golpes que forçaram Xena a ajustar sua postura e redobrar a concentração. O sorriso afiado de Terreis se misturava ao olhar calculista de Xena, como se o duelo entre elas fosse uma dança de habilidades e vontades.

Gabrielle, de braços cruzados, mal piscava. A cada movimento de Xena, sentia a intensidade oculta, algo que passava despercebido a todos, exceto a ela. Ao longo do combate, Xena lançava olhares breves para Gabrielle, como se precisasse garantir que a loira ainda a observava.

Gabrielle não sabia o que esperava das habilidades de Terreis, mas por algum motivo surpreendeu-se ao perceber como seus golpes eram graciosos, precisos e certamente mortais, no contexto correto. Estava tão acostumada às interações amenas com Terreis que percebeu que esquecera que a mulher era, antes de tudo, uma guerreira treinada desde a infância.

Apesar disso, a luta terminou em favor de Xena. Terreis riu, um pouco sem fôlego, fazendo uma mesura respeitosa.

– Você realmente faz jus à sua lenda, Xena – disse ela com admiração.

Xena inclinou a cabeça em agradecimento, seu olhar ainda firme.

– E você faz juz às amazonas, Terreis.

Gabrielle percebeu o brilho de orgulho nos olhos de Terreis, e ao lado, viu a sombra de algo mais no rosto de Xena. Algo se aliviou em seu coração. Percebeu que tinha tido medo de que Xena fosse machucar Terreis de alguma forma, movida por seus impulsos sombrios, mas fora uma luta limpa, apesar de intensa.

Percebeu também, desconfortável, que simplesmente ver Xena, vê-la lutando com a força indomável de uma tsunami, fazia seu coração ribombar, lembrando de como era ter aqueles braços poderosos apertando-a contra seu corpo.

Terreis enlaçou mais uma vez seu braço, o que pareceu acordá-la de seu estupor e trazê-la de volta à realidade. Retomaram a caminhada, afastando-se dos soldados e de Xena.

– Xena é sinceramente a guerreira mais formidável que já conheci na minha vida – comentou Terreis, quando já estavam a uma boa distância dos soldados e se aproximavam da orla de uma pequena floresta – talvez seja a maior guerreira viva atualmente.

– De fato – comentou Gabrielle – mas confesso que foi você que me surpreendeu.

– Poxa… – Terreis fingiu reclamar – suas expectativas eram baixas então.

– Não é isso – Gabrielle sorriu timidamente e tentou se corrigir – é que todas as vezes que estive com você, você sempre foi tão… doce. Ver você lutando tão bem foi um contraste com isso. Como seu eu visse todo um outro lado seu.

– E esse outro lado… é algo ruim?

A pergunta desestabilizou Gabrielle mais do que ela esperava. Aquilo mexia com tensões fundamentais nela. A incomodava que Terreis parecia ser tão boa na arte da guerra? Quase tão boa quanto a própria Xena? Gabrielle ficou tão confusa que sentiu um pouco de tontura.

– Gabrielle, você tá bem? – a princesa lhe lançou um olhar preocupado.

– Estou bem – Gabrielle tentou se recompor.

– Tem certeza? Quer voltar para o castelo?

– Não, não – Gabrielle sentiu a confusão amainar – vamos ficar mais perto das árvores, quero sentir um pouco de cheirinho de floresta. Me faz lembrar de Potedia. Não posso dizer que eu era feliz lá, mas às vezes tenho um pouco de nostalgia.

– Certo – Terreis a acompanhou e Gabrielle se recostou em uma árvore grande e frondosa. Fechou os olhos um minuto e a sensação da forte madeira contra seu corpo a acalmou, assim como o perfume das folhas e o ruído distante de animais noturnos.

Terreis observou Gabrielle com ternura, enquanto a outra absorvia a serenidade da floresta. A presença dela, tão delicada e ao mesmo tempo tão forte, parecia fundir-se com o ambiente natural ao redor, como se Gabrielle pertencesse ali, entre as árvores e sob o céu estrelado.

– É bom ver você assim – comentou Terreis suavemente – tão… em paz.

Gabrielle abriu os olhos e encontrou o olhar de Terreis. Havia uma doçura ali, um carinho silencioso que a envolvia e a fazia sentir-se segura. A proximidade entre as duas, a leveza do momento e o jeito com que Terreis olhava para ela pareciam dissipar qualquer outra coisa que pudesse estar perturbando seu coração.

– Acho que é a sua presença que me faz bem – Gabrielle confessou, quase sem perceber que havia dito em voz alta.

Terreis sorriu, um sorriso que acendeu algo em Gabrielle, uma sensação quente e reconfortante, como o primeiro raio de sol em uma manhã fria. Terreis então se aproximou, as pontas dos dedos dela roçando a mão de Gabrielle, criando uma corrente suave de eletricidade entre elas.

– Gabrielle… – murmurou Terreis, hesitando por um momento, como se estivesse esperando uma permissão silenciosa.

Gabrielle respondeu apenas com um leve inclinar de cabeça e um sorriso. Era um gesto sutil, mas que dizia tudo. Lentamente, Terreis aproximou-se, e seus lábios tocaram os de Gabrielle em um beijo doce e terno, que parecia carregar consigo toda a calma e a beleza daquela noite.

Foi um beijo onde a leveza e a segurança eram tão palpáveis quanto o som suave das folhas ao redor. Por um instante, tudo se silenciou, e o mundo se resumiu ao toque suave entre as duas, à intensidade tranquila que ambas partilhavam.

Nota