Retorno
por DietrichA grande sala do palácio estava exageradamente iluminada por velas e tochas, quase não dando espaço para as sombras. A música preenchia a sala numa mistura de cordas e vozes criando uma melodia vibrante. A corte, embora visivelmente contrariada, tentava ater-se aos ditos da etiqueta. A verdadeira alegria vinha de outro lugar: o povo comum, que, mesmo estando do lado de fora, tomava conta do interior com o barulho de seu entusiasmo, cheio de danças e palmas. Para eles, era uma noite de celebração, e o herdeiro da imperatriz era uma razão de grande júbilo.
Solan, animado e com os olhos brilhando, corria entre os grupos de convidados, rindo e brincando com as outras crianças, completamente alheio às tensões que se espalhavam pelas fileiras da nobreza. Apesar disso, cada movimento do menino era observado por Theodorus e pelos guardas leais à Xena, que não o perdiam de vista um único segundo.
Mas, no meio dessa algazarra, havia um pequeno espaço de quietude. Gabrielle se aproximou de Xena, que estava em meio a uma conversa formal com alguns generais. Tocou com suavidade a mão da soberana, que interrompeu a conversa e se virou para encará-la com olhos límpidos. Gabrielle deu um sorriso meio nervoso, um leve corar tomou conta de seu rosto.
– Você tem certeza? – perguntou Gabrielle, baixinho, apenas para Xena ouvir, a ansiedade mal disfarçada em sua voz.
Xena abriu um sorriso cheio de certeza, seus olhos não vacilaram.
– Absoluta – respondeu. Algo no olhar de Xena passou a mensagem: É agora ou nunca. O momento de ser quem eram finalmente chegara.
Xena estendeu a mão para Gabrielle. Esta segurou-a, trêmula, enquanto a imperatriz a levava para o centro do salão. O murmúrio da corte parou por um breve momento, e até o som da música pareceu diminuir enquanto todos observavam a imperatriz e aquela que julgavam ser apenas uma funcionária.
E, então, diante de todos, Xena e Gabrielle começaram a dançar.
Os movimentos não deixavam espaço para especulações. Os corpos próximos, os olhos conectados e carregados de sentimentos. A corte observava com uma mistura de aversão e impotência.
As mãos de Xena estavam firmes nas de Gabrielle, guiando-a suavemente. A dança foi lenta, íntima, como se o mundo ao redor desaparecesse por um momento, deixando apenas a verdade daquilo que elas compartilhavam. Quando a música chegou ao fim, Xena inclinou-se para Gabrielle, a respiração quente e urgente, e, sem hesitar, selou o momento com um beijo apaixonado.
O caos foi instantâneo.
Os murmúrios da corte explodiram em um turbilhão de indignação abafada, alguns tentaram esconder o desconforto, outros não conseguiram disfarçar o desprezo. Mas Gabrielle e a soberana estavam imperturbáveis.
O povo comum apenas tornou seu entusiasmo ainda mais audível.
De propósito, Xena tornou aquele beijo ainda mais intenso e sensual do que provavelmente deveria ser. Quando finalmente separaram seus lábios, o olhar que trocaram dizia que aquele era apenas o início da noite.
Xena virou-se para encarar a corte, seu olhar afiado como uma lâmina, cortando sem piedade os olhares de desprezo e transformando-os em resignada submissão.
– Hoje está sendo um dia difícil para vocês, hein? – ela murmurou, num tom que apenas eles podiam ouvir.
A imperatriz chamou Solan, que veio correndo para o seu lado. Passou a mão pelos cabelos do menino e trocaram um sorriso. A voz da soberana se fez poderosa:
– Essa é minha família – ela falou – meu filho e herdeiro, Solan, e meu amor, Gabrielle. Juntos, governaremos esse império.
Os plebeus gritaram de júbilo, assim como os servos, guardas e soldados.
Os nobres se mantiveram em silêncio, engolindo a humilhação de uma imperatriz que ousara quebrar as convenções de seu próprio reino.
A festa continuou com um tom de alegria vibrante, mas também de tensão disfarçada. Os convidados, agora com um sorriso forçado, se misturavam com os servos e a multidão que aplaudia Solan e a imperatriz. Alguns tiveram a dignidade de cumprimentar Gabrielle e Solan, e trocar com eles palavras amigáveis. Xena anotou mentalmente todos os rostos, nomes e reações. Sabia que geraria uma crise, mas estava pronta para enfrentá-la.
***
A festa continuava, mas Xena e Gabrielle, após uma troca de olhares carregada de cumplicidade, se afastaram silenciosamente da multidão. O som distante da música e das risadas desapareceu à medida que elas caminhavam pelos corredores do palácio. Quando chegaram à câmara real, a porta se fechou com um suave estalo, e o peso do mundo pareceu se dissipar.
Dentro do espaço privado, onde as convenções e os olhares da corte não podiam alcançá-las, Xena se aproximou de Gabrielle, suas mãos se encontrando com um toque que era ao mesmo tempo urgente e terno. Xena tomou-a nos braços, beijando-a com todo seu desejo e abandono. Em meio aos suspiros ofegantes, Gabrielle ainda encontrou espaço para perguntar:
– Quem está de olho em Solan?
Xena, com os lábios ainda próximos aos de Gabrielle, sorriu:
– Theodorus. Ele vai cuidar dele.
O beijo que seguiu foi suave, mas logo se intensificou, como se o mundo todo ao redor delas tivesse desaparecido. Xena puxou Gabrielle para mais perto, querendo fundir seu corpo ao da mulher que se tornara sua vida.
Caíram na cama com uma risada de pura alegria. Xena se estendeu por cima de Gabrielle mas a mulher menor, num gesto súbito, inverteu suas posições:
– Sabe – disse a loira, pousando um beijo suave no pescoço da imperatriz – acho que já está na hora de eu pôr em prática tudo que você vem me ensinando nos últimos dias.
– Huuummm… é mesmo? – Xena deu um sorriso lascivo – que aluna aplicada você é.
– Vamos descobrir – respondeu Gabrielle.
A loira se afastou e, olhando profundamente nos olhos da imperatriz, começou a tirar a roupa dela. Xena sentiu uma emoção inominável, que ia muito além do desejo. Nunca, jamais, ela tinha sido olhada daquele forma. Todas as vezes que tinha estado intimamente com alguém, era movida por pura e simples luxúria. Às vezes mal processava o rosto da pessoa, que era apenas um objeto para satisfação de suas necessidades.
Aquilo era completamente novo e diferente. O olhar de Gabrielle, cheio de desejo e devoção, incendiava seu corpo como ela jamais havia sentido, ao mesmo tempo que fazia seu coração galopar cheio da mais forte emoção que jamais sentira. Uma emoção que encontrou caminho até seus lábios e precisou se transformar em palavras.
– Gabrielle… – Xena murmurou baixinho.
Gabrielle, que terminava de desfazer um dos muitos nós das vestes de Xena, reagiu:
– Sim?
– Eu… – Xena engoliu em seco, tremia, sentia que seu coração ia se desfazer – te amo.
Era a primeira vez em sua turbulenta vida que aquelas palavras saíam de seus lábios, e Gabrielle respondeu com um beijo intenso e apaixonado. Quando se afastou, tinha lágrimas nos olhos.
– Te amo, Xena – murmurou Gabrielle. Aquelas palavras atingiram seu coração de forma dolorosa, e ela entendeu porque a mágica de Eros era uma flecha. Também fizeram seu desejo dominá-la e mergulhou em mais um beijo descomedido, voltando ao seu trabalho de despir a imperatriz.
Segurando a si mesma, a despiu com calma e vagar, beijando cada parte do corpo que aparecia. O corpo de Xena estremecia, entregue à sensação única de ser tocada por alguém amado – e que amava de volta.
Lembrou dos soldados que levavam para a guerra pequenas bugigangas de suas amadas. Daqueles que, mesmo à beira da morte, insistiam em viver sob a promessa de retornar aos braços da amada. Como os achara ridículos. Naquele momento em que sentia os lábios de Gabrielle sobre sua pele, entendeu que mataria mil exércitos para estar ao lado dela.
Gabrielle livrou-se de suas próprias roupas e dedicou-se à emoção de tocar e sentir aquele corpo sob o seu, que para os outros era o corpo que os liderava em batalhas, mas, naquele momento, era apenas a mulher que amava. Seu corpo tremeu de desejo, tomado pela beleza de Xena e pela ânsia de sentir seu calor e sabor.
Beijou com suavidade o pescoço exposto, deixando a língua deslizar por aquela região, e ao ouvir Xena suspirar e estremecer, seu próprio corpo arrepiou-se inteiro. Refestelou-se no sabor daquela pele, cítrico, ardente, e logo desceu, em busca de novas sensações.
Beijou com leveza os seios, sugando a carne macia ao redor dos mamilos, capturando-os depois entre os lábios e os sugando. O sabor que ali havia era indescritível em sua doçura e o gemido de Xena a fez sentir-se triunfante e poderosa. As mãos da imperatriz começaram a acariciar seus cabelos.
Xena estava perdida dentro de si mesma e na sensação enlevante de sentir os lábios macios de Gabrielle espalhando ardor por seu corpo. Nada que tinha sentido na vida podia comparar-se aquela sensação. Qualquer receio que ainda havia se dissipou e ela deixou-se à disposição de Gabrielle: tudo que desejava era que a mulher não parasse de tocá-la.
Apenas a curiosidade conseguiu tirar Gabrielle dos seios de Xena, pois o sabor que encontrou ali era intoxicante, e as reações de Xena eram intensas e viciantes para os seus sentidos. Mas ela queria prosseguir em sua exploração.
Sua boca prosseguiu no caminho descendente, beijando a barriga, mordiscando e lambendo. O cheiro do sexo logo abaixo parecia chamá-la e ela não hesitou.
Deixou sua língua e lábios correrem sem rumo pelo sexo da imperatriz, sentindo seu coração bater com força imensa ao perceber que tinha sido presenteada com aquela intimidade profunda. Sentiu as pernas de Xena abrirem-se para ela e abraçou as coxas fortes, enquanto beijava com ardor aquela região molhada e pulsante.
Depois de deliciar-se livremente nas essências da soberana, sentindo o aumento dos movimentos dos quadris e da intensidade dos gemidos de Xena, concentrou-se no local onde sabia que se escondia o prazer. Os dedos de Xena entraram em seus cabelos e um gemido alto e único escapou dos lábios da morena.
Gabrielle concentrou-se em seguir os sinais que a mulher lhe dava, e assim seguiu até sentir as pernas de Xena perderem-se num tremor descontrolado ao redor de sua cabeça, e as mãos fortes a puxarem para cima.
A visão do rosto vermelho e perdido em prazer de Xena marcou-se em sua alma com emoção inominável. Abraçou-se com força ao corpo da amada, que se agarrava à ela tentando recuperar as palavras. Depois de minutos de entrega e silêncio, Gabrielle arriscou um verbo:
– Aprendi?
Xena riu alto, mergulhando o rosto nos cabelos de Gabrielle, seu corpo ainda fraco, mas já retornando do abismo de prazer.
– Perfeitamente – sussurrou.
Gabrielle sorriu e enredou-se no corpo da imperatriz, seus corpos num encaixe perfeito, assim como suas almas, que sabiam que tinham encontrado sua definitiva morada.
***
Meses depois
Gabrielle, Xena e Solan estavam posicionados junto aos portões do castelo, o sol ameaçava se pôr no horizonte. Gabrielle, com os olhos fixos na estrada, sentia o coração acelerar.
Quando os portões finalmente se abriram, a caravana entrou com o rangido das rodas de madeira, e logo, entre as cortinas de poeira, a figura pequena de Rhea apareceu. Ela desceu rapidamente do veículo e, como uma flecha, correu diretamente para os braços de sua mãe. Gabrielle a envolveu com força, sentindo o calor e a suavidade da filha em seus braços. Ambas choraram, as lágrimas se misturando, mas eram lágrimas de alívio, saudade e felicidade.
– Minha menina… – Gabrielle sussurrou, afagando os cabelos de Rhea, sentindo o peso dos meses passados sem ela – me conta tudo, por favor! Quero saber de cada detalhe, o que você aprendeu, como foi sua vida lá…
Rhea, com os olhos brilhando, já estava animada para falar. As palavras saíam de sua boca como uma torrente: sobre os professores, os amigos, as aventuras e até mesmo os pequenos contratempos que havia enfrentado. Gabrielle ouvia atentamente, com um sorriso nos lábios, encantada com a energia e o entusiasmo da filha.
Quando a avalanche de palavras pareceu acabar, Rhea olhou com curiosidade para Xena e Solan, que estavam mais atrás, observando em um silêncio entretido. A pequena sorriu timidamente e, com uma educação que refletia os bons modos que aprendeu na escola, se aproximou deles.
– Olá, senhora imperatriz. Olá… moço – ela disse, com um sorriso inocente e aberto.
Gabrielle não pode evitar de sorrir. Ela olhou para sua filha, os olhos cheios de carinho, e sussurrou:
– Eu também tenho muita, muita coisa para te contar, meu amor.
Xena, Gabrielle e Solan se entreolharam com sorrisos cúmplices. Rhea os olhou com curiosidade, sentindo que algo de muito bom estava para ser revelado. Mal sabia a menina que acabava de voltar à sua nova família, onde tinha ganhado mais uma mãe e um irmão. Uma nova fase na sua vida, ainda tão nascente, tinha começado.
FIM