Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Gabrielle começou a reunir os documentos restantes, tentando manter-se ocupada enquanto os conselheiros saíam em pequenos grupos, murmurando entre si e lançando olhares aprovadores em sua direção. Alguns se aproximaram rapidamente para cumprimentá-la antes de partir.

– Excelente trabalho, senhora Gabrielle – disse Menon, com um leve aceno de cabeça – sua organização foi essencial na reunião de hoje.

– Sim, foi notável – acrescentou Adrasteia, oferecendo-lhe um sorriso raro – esperamos que continue com esse nível de dedicação.

Gabrielle sorriu e agradeceu educadamente, mantendo a compostura enquanto os observava saírem. Quando o último conselheiro fechou a porta, o salão mergulhou em silêncio, e ela percebeu que finalmente estava sozinha com Xena.

Xena ainda estava sentada à cabeceira da mesa, aparentemente ocupada com alguns pergaminhos que fingia ler. Gabrielle hesitou, observando a Imperatriz em silêncio, como se temesse interromper seus pensamentos. Após um instante, caminhou lentamente até Xena, escolhendo suas palavras com cuidado.

–  Parece que a reunião de hoje foi produtiva – comentou Gabrielle, com um meio sorriso.

Xena ergueu os olhos, um brilho curioso passando por seu olhar antes de sua expressão voltar a ser impassível.

–  É verdade. Alguns dias são mais… eficientes que outros.

Gabrielle deu um pequeno passo à frente, ajustando os rolos de pergaminho em suas mãos. Sentia o coração bater acelerado, mas manteve o rosto calmo. Lançou um olhar breve, quase casual, à Imperatriz.

– Fico contente por poder ajudar, embora… Ouvi dizer que a decisão de me chamar foi causa de controvérsia –  comentou, olhando para os documentos com aparente desinteresse.

Xena franziu levemente o cenho, mas desviou o olhar, voltando a encarar os pergaminhos diante dela.

– Aqueles pedaços de bosta de cavalo não conseguem ficar calados, hein? – resmungou a imperatriz.

Gabrielle não conseguiu frear uma risada. Xena a olhou, parecendo incrédula com o som. Era algo que ela achava que jamais ouviria de novo, pelo menos não em sua presença. Pigarreou e continuou, num tom mais formal:

–  Eu tinha minhas razões para preferir que você não fosse incomodada – respondeu a soberana – no entanto, o Conselho parece ter outras ideias.

Gabrielle mordeu o lábio inferior, hesitando por um momento, mas algo na postura de Xena a encorajava a continuar.

– Eu entendo. Mas a verdade é que já faz um tempo que não a vejo por aí – comentou Gabrielle, sua voz baixa, quase tímida.

Xena fez uma pausa, deixando que o silêncio se prolongasse antes de responder. Ela ainda não a encarava diretamente, como se estivesse avaliando o peso da própria resposta.

– Há certas responsabilidades que exigem minha atenção – murmurou, finalmente erguendo o olhar para Gabrielle. A expressão de Xena era dura, mas havia algo de cansado em seus olhos, uma sombra que Gabrielle não podia ignorar – além do mais, penso que… – a imperatriz não continuou, e desviou o olhar novamente.

– Entendo – Gabrielle respondeu suavemente – sei que são tempos difíceis. Só queria que soubesse que, se precisar de ajuda, estarei aqui. Não hesite em me convocar.

Xena manteve os olhos baixos, seu rosto momentaneamente vulnerável antes de voltar a erguer a máscara de frieza.

– Agradeço a oferta, Gabrielle – disse ela, com uma calma controlada – mas algumas lutas são melhor travadas sozinha.

Gabrielle acenou lentamente, sentindo a barreira invisível entre elas, mas sem desistir completamente. Ela deu um passo para trás, respeitosa, mas deixou suas palavras finais com um toque de determinação.

– De qualquer forma, não sou fácil de afastar. Mesmo que prefira lutar sozinha. Saiba disso.

Ela lhe lançou um último olhar, carregado de significados não ditos, antes de ir embora, deixando Xena em silêncio, pensativa e abalada pelas palavras.

 

***

 

Xena entrou no escritório de Theodorus sem sequer bater, empurrando a porta com força e interrompendo, mais uma vez, uma reunião. Theodorus estava em meio a uma explicação para um grupo de oficiais, e seu olhar endureceu ao vê-la invadir o recinto, mas ele se levantou e dispensou os outros com um gesto curto, indicando que deixassem os documentos sobre a mesa.

–  General, precisamos conversar. Agora – disse Xena com um tom imponente, ignorando os olhares curiosos dos oficiais enquanto deixavam o cômodo.

Assim que a porta se fechou e o silêncio se instalou, Xena cruzou os braços e caminhou lentamente até a janela. Theodorus, observando-a atentamente, percebeu o leve tremor em suas mãos e o olhar distante.

Após um longo silêncio, Xena virou-se para ele, e, com um suspiro profundo, finalmente disse:

– Então. Estou apaixonada. Por Gabrielle.

Theodorus a encarou com uma expressão de quem estava surpreso com o fato de Xena falar aquilo, mas não com o conteúdo da fala. Ele ergueu uma sobrancelha, inclinando a cabeça, mas não disse nada, aguardando que Xena prosseguisse.

– Eu… – Xena hesitou, mordendo o lábio enquanto tentava organizar os pensamentos – achei que me afastar dela fosse a melhor forma de protegê-la. Mas ela, por algum motivo que não sou capaz de compreender, não quer me evitar.

– Protegê-la? – questionou Theodorus – ou proteger-se?

Xena revirou os olhos.

– O que é isso? Estou cercada por malditos Sócrates por todos os lados? Por que parece que todo mundo sabe o que está acontecendo, menos eu?

– Você é uma mestra da guerra, Xena – o homem respondeu – mas não conhece palavras para falar de amor.

– E você é o especialista, suponho 

O homem deu um sorriso desconsolado.

– Longe de mim. Sou só um velho soldado casado que ama a própria esposa. Erro constantemente com ela. Mas dou o melhor que posso.

– Oh, parabéns – Xena respondeu com sarcasmo, depois se voltou e deu as costas ao general. Sacudiu a cabeça – Gabrielle não tem mais medo de mim – murmurou, com incredulidade na voz – mesmo depois do que fiz. Como isso é possível? Ela é alguma espécie de suicida? Como Callisto?

Theodorus soltou um suspiro pesado e, após um breve silêncio, colocou a mão no ombro de Xena.

– Talvez o que você vê como imprudência ou coragem seja, na verdade, algo muito mais simples – sugeriu ele – ela sabe que existe em você mais do que sua violência. E isso é raro, Xena. Raro e precioso.

Xena respirou fundo, o semblante endurecendo. Ela balançou a cabeça.

– O que devo fazer com tudo isso? Não quero feri-la. Não quero chegar nem perto de feri-la. Nunca mais.

– É uma expectativa bem alta, considerando que o instinto de ferir pessoas é presente em você.

Xena se afastou do homem, com passos pesados e rápidos, os ombros sacudindo num gesto de desespero incomum.

– O que as pessoas fazem com isso de apaixonar-se? Como se vive com isso? Parece… parece uma febre, uma doença!

– Bem, a maioria de nós aprende a lidar depois da adolescência. Mas para você isso veio um pouco mais tarde, então é normal que você esteja perdida.

– Ah, será que dá para ser um pouco mais condescendente? – a imperatriz rosnou.

– Você que está aí cheia de pena de si mesma, como espera que eu aja? Xena, pelo amor dos deuses. Peça perdão à essa mulher. Apenas faça isso.

– Theodorus – Xena virou-se – eu só pedi perdão a uma única pessoa a minha vida inteira, e sabe o que aconteceu? Eu matei essa pessoa.

– Xena!  – homem perdeu a paciência – você percebe que está interrompendo assuntos importantes de estado para digressar sobre as dores de seu coração apaixonado como se fosse uma adolescente melodramática? Pelos deuses, mulher! Você é a imperatriz da Grécia! Uma guerreira sem precedentes! Simplesmente se recomponha e peça perdão a essa mulher como uma criatura adulta e responsável!

Xena sentiu-se como se estivesse empurrando a pedra de Sísifo.

– Me dê uma guerra, Theo. Mas não me dê isso.

– Essa é sua guerra, Xena. E pelo amor dos deuses, pare de interromper minhas reuniões.

 

***

 

Gabrielle percorria mais uma vez o caminho familiar que levava até a área de treinamento do quartel. Usava agora roupas específicas para esse momento. Calças, uma blusa leve e botas de combate, além de manter os cabelos amarrados. A ideia de aprender a lutar tinha entrado nela com mais facilidade do que esperava. Não era mais apenas sobre obedecer as ordens de Xena ou mesmo aprender a se proteger. Ela queria se tornar cada vez melhor naquela arte.

Ao se aproximar do pequeno grupo de soldados que eram seus mentores, sua atenção foi capturada por uma presença inusitada. Xena estava lá. Recostada na armação de madeira, conversava relaxadamente com os soldados. Sentiu seus ombros tensionarem, mas respirou fundo e os alcançou.

Os soldados, que agora já a conheciam, a cumprimentaram com descontração. Xena a cumprimentou com um aceno, e ela respondeu igualmente. A imperatriz sinalizou aos soldados que se enfileiraram. Pegou dois bastões e lançou um na direção de Gabrielle, que o pegou no ar com destreza e o girou com uma mão só. Xena deu um sorriso de aprovação.

– Certo, Gabrielle. Vim verificar em que pé anda seu treinamento. Hoje, eu sou sua oponente.

Gabrielle sentiu um frio na barriga, mas não conseguiu evitar uma sensação inesperada de excitação perante a ideia de enfrentar aquela que povoava seus melhores sonhos e seus piores pesadelos. Acenou com a cabeça e se pôs em posição de combate. Esperou, em silêncio e atenta, Xena fazer seu primeiro movimento.

Nota