Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    Gabrielle viu-se novamente na cela de pedra. Pela primeira vez em dias, não conseguiu segurar as lágrimas que desceram como uma torrente de seus olhos. Cada centímetro do seu corpo latejava de dor, sua cabeça queimava onde os espinhos tinham entrado.

    Seu corpo sacudia com os soluços. A exaustão a dominou e ela imaginou que tinha adormecido. Acordou com o próprio pranto.

    – Ephiny – ela sussurrou no escuro – Igara, Chilapa, Diana, Fedra, Terreis, Maya, Talia… Ephiny, Ephiny, Ephiny… preciso de você, preciso de todas vocês. Por favor, estejam comigo, estejam perto de mim. Estou no limite de minhas forças. O que faço agora?

    Esperou as vozes aparecerem, mas só ouviu um gotejar distante em algum ponto do calabouço.

    – Ephiny, Igara, Chilapa, Diana, Fedra, Terreis, Maya, Talia..

    Seus lábios continuaram se movendo sem interrupção até ela adormecer novamente.

     

    ***

     

    Xena observava de sua poltrona o lento movimento do peito de Eris enquanto a escrava ressonava baixinho em sua cama. Deu uma longa tragada no cigarro de ervas aromáticas enquanto sua mente vagava.

    Talvez pendurá-la pelos tornozelos e espancá-la até a inconsciência múltiplas vezes. Soprou a fumaça. Arrancar suas unhas, ou, quem sabe, furar seus olhos. Coçou o queixo. Esfolar partes de seu corpo? Ergueu uma sobrancelha, pensativa.

    Não seria o bastante. A loira não tinha medo de dor. O máximo que conseguiria seria matar a mulher por acidente e aí não teria mais graça.

    Passou a mão nos cabelos e esfregou o rosto. Precisaria de uma nova abordagem. 

     

    ***

     

      Um guarda abriu a cela e depositou uma tigela e um copo no chão. Outro guarda pegou o balde com seus dejetos e deixou outro, vazio. Os dois saíram sem dizer palavra.

    Gabrielle se alimentou e bebeu a água. Pela sua contagem, uma semana havia se passado. Recebia três refeições por dia. Dia sim, dia não, um guarda lhe trazia um pano úmido, esperava ela se limpar e lhe entregava uma túnica lavada.

    No fim da segunda semana, perguntou a um guarda o que estava acontecendo, mas ele a ignorou. Sequer lhe dirigiu o olhar.

    Seu corpo se fortalecia, mas sua mente não seguia o mesmo ritmo. Seus pesadelos eram aterradores, e ela despertava aos gritos. Acordada, via imagens de suas irmãs mortas diante de seus olhos, que desapareciam quando tentava tocá-las. Ouvia o barulho de seus corpos tombando enquanto eram executadas.

    Uma mulher apareceu e cortou seu cabelo. Gabrielle tentou falar com ela, mas foi ignorada. Atacou o guarda que acompanhava a mulher, mas este apenas recuou e a deixou sozinha na cela. A amazona passou a mão pelos fios curtos em sua cabeça. Depois de alguns dias, Gabrielle se perguntou se tinha imaginado seus longos cabelos.

    Seu corpo já não doía mais.

    – Vejo que está bem melhor.

    A voz pareceu despejar uma pressão gelada por todo seu corpo. Voltou os olhos para a alta mulher morena que a observava de fora da cela.

    – Sabe, essa é a primeira vez que dou uma boa olhada em você – a conquistadora continuava falando – na guerra você estava coberta de sangue e sujeira. Na corte também. Mas agora está limpa e bem alimentada – deu de ombros – não é uma visão ruim.

    Gabrielle sentiu sua cabeça latejar. Considerou que finalmente terminara de perder a noção da realidade.

    – Me deixe em paz – respondeu, mal reconhecendo o rosnado rouco que vibrou em sua garganta subutilizada.

    – Eu vim lhe oferecer uma escolha – a conquistadora encostou-se nas grades – você pode continuar aqui, nos seus, hum, aposentos. Receberá comida e estará sempre limpa. Pode apodrecer aqui até morrer. Ou, você pode vir e me servir como escrava pessoal. Limpar meu quarto, preparar meu banho e me acompanhar em locais em que eu necessite de sua assistência. Terá comida melhor, um bom lugar para dormir, poderá ver e conversar com outros escravos como você. O que você escolhe?

    – Prefiro morrer aqui – respondeu Gabrielle, de pronto.

    A conquistadora sorriu.

    – Que assim seja – virou-se e saiu do calabouço.

     

    ***

     

    Gabrielle batia devagar a testa na parede, quando um guarda veio com sua comida.

    – Por favor – ela pediu – me diga…

    O homem saiu. Ela apertou as grades da cela e gritou.

    Comia os últimos pedaços da refeição quando o barulho de passos a fez correr até as grades e olhar o corredor.

    A rainha parou de frente à sua cela.

    – Olá, Gabrielle. Está sendo bem tratada?

    A voz da conquistadora era a primeira que ouvia há tempos. A loira recuou e deu as costas à sua captora.

    – Tivemos ensopado de carneiro hoje no castelo. Não sei se você sabe, mas todos aqui comem a mesma coisa. Corte, soldados e escravos.

    Gabrielle encostou na parede, apoiou a testa na pedra fria e fechou os olhos.

    – Vim renovar minha oferta a você. Pode sair daqui hoje mesmo.

    Acariciou a pedra áspera. Uma lágrima escorreu de seu olho quando ouviu os passos se afastarem e a porta do calabouço trancar-se novamente.

     

    ***

     

    O ritmo daquelas passadas já era familiar, e Gabrielle não se deu ao trabalho de conferir. Seus olhos estavam fixos na parede, contando as dezenas de riscos a que se resumiam seus dias. A voz macia e musical começou a ladainha.

    – Você olhou para aquela amazona dos cabelos cacheados de forma diferente das outras.

    Foi como se uma mão gigante a agarrasse e a jogasse contra a parede. Gabrielle arquejou e arranhou a rocha gelada.

    – Não se atreva a falar sobre ela – rosnou, baixinho.

    – Então você fala – a rainha sorriu – ela devia mesmo ser especial.

    Gabrielle ficou de pé e caminhou em direção à conquistadora.

    – Sim, ela era – respondeu. Aproximou-se e segurou a grade com as mãos – por que fez aquilo?

    – Do que exatamente está falando?

    – Já tínhamos perdido – Gabrielle tinha a voz angustiada – porque tinha que matá-las?

    A rainha acariciou o punho da espada que trazia na cintura.

    – Porque eu gosto de matar.

    Gabrielle arregalou os olhos.

    – Eu poderia dizer que era necessário, ou que essas coisas acontecem na guerra. Mas não passaria de besteira. Então fique com a resposta verdadeira, loirinha.

    Xena virou-se e começou a se afastar. Antes de atravessar a porta do calabouço, olhou para Gabrielle.

    – Você vai continuar ai dentro? – perguntou.

    A amazona fechou os dedos com força ao redor das barras de metal. Tentou lembrar da sensação do sol em sua pele. Ouvir outras vozes humanas.

    Imaginou-se servindo Xena como escrava. A bílis subiu até a sua garganta. O dia a dia, servindo-a. Conhecendo sua rotina, suas fraquezas. Seus momentos de vulnerabilidade. E, quando a rainha menos esperasse, cortando sua garganta.

    – Quero sair daqui – disse.

    0 Comentário

    Digite seus detalhes ou entre com:
    Aviso! Seu comentário ficará invisível para outros convidados e assinantes (exceto para respostas), inclusive para você, após um período de tolerância. Mas se você enviar um endereço de e-mail e ativar o ícone de sino, receberá respostas até que as cancele.
    Nota